Ouço de alguns, nesses dias tormentosos, que tudo está perdido, que as cartas estão marcadas no Senado e já se deve contar, inapelavelmente, com a consumação do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Seja qual for o cenário decorrente da admissibilidade, pelo Senado Federal, do pedido de impeachment, o protagonismo da presidente Dilma Rousseff será crucial.
No último dia 22, a presidente Dilma Rousseff discursou na ONU, diante de mais de 100 chefes de Estado, na cerimônia de assinatura do acordo global sobre o clima.
“Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor”.
“Luís Inácio”, de Herbert Vianna
O expediente do “impeachment” contra a presidente Dilma Rousseff “é pura e simplesmente o biombo que escamoteia o verdadeiro golpe, cujo objetivo declarado é a construção de um governo necessariamente repressivo porque essencialmente reacionário, antipovo e antinacional”, escreveu Roberto Amaral em seu artigo “O assalto à soberania popular”, veiculado pela revista Carta Capital.
Eleito, semanas atrás, líder da bancada do PCdoB na Câmara Federal, o deputado Daniel Almeida costuma olhar para trás e dizer: “Quando deixei Mairi, no interior da Bahia, para estudar em Salvador, não sabia que me tornaria líder sindicalista, vereador e deputado. Mas sabia que não estava fadado a me acomodar”.
Vamos direto ao ponto: qualquer acordo – ou pacto – de que venha participar a esquerda e os setores democráticos e progressistas, com o objetivo de superar a atual crise politica brasileira, e que inclua a não candidatura do ex-presidente Lula em 2018, não passará da mais vergonhosa capitulação.
Contrariando a praxe de seu habitual comedimento, a presidente Dilma Rousseff pronunciou um duro discurso durante a posse do ex-presidente Lula na Casa Civil, no último dia 17, em Brasília. A posse que está sendo objeto de contestações junto ao Supremo Tribunal Federal, mas o que nos importa aqui são as palavras da presidente.
As manifestações do último domingo apenas confirmaram o caráter nitidamente classista – de classe média, média para alta – desse movimento de oposição que se avolumou depois que a direita perdeu as eleições de outubro de 2014 e não se conformou com isso.
Na tarde da última sexta-feira, (4), após assistir ao pronunciamento do ex-presidente Lula, postei no Facebook a seguinte mensagem:
Desde que a presidente Dilma Rousseff foi reeleita, em outubro de 2014, e dada a tibieza com que vem se comportando diante da truculenta e sistemática oposição que a cercou (e a cerca até hoje e certamente até o final do mandato), debateu-se muito, entre seus apoiadores, sobre a necessidade do governo a encarar com maior vigor a luta politica em curso no Brasil. Ou seja, ingressar no cenário do confronto para defender, com a tenacidade, a meu ver imperiosa, o segmento político que representa.
“(…) um partido que mantém sua identidade comunista,
seu caráter de classe de partido dos trabalhadores,
portador de uma base teórica sólida, o socialismo científico…”.
Tese consagrada no XII Congresso do PCdoB (dezembro, 2009).