Israelense faz cinema em Paris
A narrativa é complexa e sem dúvida não deixa muito claro se há crítica
Publicado 25/07/2022 11:31
O filme se chama “Synonymes” e está sendo apresentado pela Mubi. É uma produção francesa, mas o filme realmente é israelense, pois foi feito pelo cineasta nascido em Tel Aviv e que se chama Nadav Lapid. É um cineasta que começou em seu país como poeta e escritor, mas se tornou cineasta depois que se mudou para viver em Paris. Ele tem na sua produção uns seis filmes e todos eles feitos na década de 2010. “Sinônimos” foi lançado em 2019.
“Synonymes” é realmente dúbio, embora o personagem principal seja um jovem que vem fugindo de Israel e das pressões políticas que sofreria lá, deixa no espectador, me parece, uma dúvida: se realmente faz crítica ou se é formalidade como ele se refere ao fato de sair de Israel. Segundo informações, Nadav Lapid utiliza acontecimentos da sua vida pessoal na formação do roteiro, feito pelo seu irmão, que também mora em Paris.
Uma estória simples de um jovem que se refugia em Paris buscando liberdade. Mas a narrativa é complexa e sem dúvida não deixa muito claro se há crítica. Tanto podemos entender crítica a Israel como de certa forma ironia ao clima ufanista que existe na França.
Independentemente da visão que o filme expressa, temos uma obra rica como filme e com bonitos momentos musicais. Músicas de vários gêneros. Lapid recebeu em 2019 o Urso de Ouro em Berlim.
Olinda, 19.07. 22
Aparência de um filme gay
De alguma maneira, o filme “Synonymes” de Nadav Lapid certamente se tivesse sido apresentado nos anos 80 do século passado, não ganharia o espaço de lançamento de primeira classe, e teria passado como mais um filme gay, embora com a qualidade estética dos melhores produtos. Mas não simplesmente pelas cenas do nu das nádegas persistentes do personagem principal, mas pelo próprio clima sofisticado em que a própria narrativa se desenvolve o tempo todo. O clima gay é sempre mais refinado e isso é um dado evidente.
Essa abertura para o sexual no mundo de hoje não está somente no cinema, e podemos descobri-la na literatura. Por exemplo, no livro de Roberto Bolaño “2666”, temos uma sequência com Rosa Amalfitano e um ‘narco’ de extrema desfaçatez para tempos passados. Hoje, o fato de narrar abertamente o ato sexual não desclassifica ou mesmo classifica uma obra de arte. Isso é bem evidente.
Numa segunda visão de “Synonymes”, ainda fica mais evidente o clima de sofisticação e de muita ironia para apresentar tanto o clima cultural na própria Israel como na França parisiense, e os ‘sinônimos’ servem para distinguir como um rapaz intelectualizado não se dá conta das muitas diferenças entre as duas culturas. Mas mesmo assim consegue ironizar com ambas. Pelo fato de jogar o tempo todo com esse duplo clima cultural é que o filme “Synonymes” será muito mais acessível ao espectador francês ou mesmo ao judeu de vivência israelense.
A plataforma Mubi apresenta essa obra de Nadav Lapid provavelmente visando um possível público estrangeiro que vive no Brasil. Sabemos nós os meandros da exibição cinematográfica no mundo.
Olinda, 20. 07. 22