Publicado 24/02/2017 14:45
“Nós eliminamos a recessão, agora vamos para o crescimento e o desenvolvimento desse país. O Brasil tem rumo”, disse, em um vídeo de pouco mais de dois minutos, com animação gráfica e trilha sonora de filme de ação.
Para tentar sustentar essa afirmação digna de quem não está nem aí com a realidade, Temer disse que a queda da inflação e a diminuição dos juros sinalizam a retomada do crescimento da economia do país que já eliminou a recessão.
Temer afirma que a inflação encerrou 2015 acima de 10% e que já fechou 2016 em 6,29%. “E agora, neste mês de janeiro e no mês de fevereiro, foram os meses de baixíssima inflação, praticamente há anos e muitos anos que a inflação não se reduz aos percentuais de janeiro e fevereiro. Qual é o significado disso? O significado é a restauração da confiança e da credibilidade no país”, disse.
Esse tem sido o discurso da equipe econômica do governo. O ministro da Fazenda Henrique Meirelles também adotou o mesmo discurso de que a recessão acabou e o Brasil entrou na rota do crescimento econômico.
Mas a realidade é bem diferente. O país vive a mais profunda recessão da história, com queda do Produto Interno Bruto (PIB), desemprego crescente, queda da renda e do crédito. Para economistas, o governo Temer quer transformar uma recuperação cíclica da economia em “fim da recessão”.
A imprensa, que apoiou o golpe, endossa o discurso da equipe econômica de Temer e diz, por exemplo, qiue a economai está melhorando porque os juros estão caindo. De fato, os juros nominais estão caindo, mas os juros reais continuam a subir e supera a inflação.
Guilherme enfatiza que há uma diferença muito grande entre recuperação cíclica da economia e retomada do crescimento. Ele explica que a economia geralmente caminha por ciclos e a economia brasileira vive um ciclo recessivo que se transformou em depressão econômica. “É a maior quedo do PIB da história do país e os dados mostram que não somente é a queda mais profunda, mas também a mais duradoura, com dois anos seguidos de crescimento negativo e uma perspectiva de um terceiro ano de crescimento zero ou até negativo. Não tem paralelo na história do Brasil”, aponta.
Ele explica que a recuperação cíclica é um efeito da própria economia que, depois de um ciclo da grande queda, cria estabilizadores econômicos por conta do nível baixo da produção. Nesse momento, para sair do quadro recessivo, os empresários e consumidores voltam a gastar um pouco e a economia para de cair.
“O contrário disso seria a retomada de crescimento econômico. Para isso é preciso haver investimento, inovação, uma grande criação de empregos, aumento da renda, do crédito e da produtividade. Esses fatores estão tão longe da realidade atual que chega a parecer um pouco risível as declarações do ministro da Fazenda. Basta ver os dados do emprego, da produção”, pontua Guilherme.
Ele cita como exemplo os dados da capacidade ociosa da indústria. De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), o nível de utilização da capacidade instalada ficou em 63% em janeiro.
“A indústria está com uma elevadíssima capacidade ociosa. Onde o empresário vai investir para aumentar a sua capacidade produtiva se ele tem um monte de máquinas paradas? Obviamente não vai”, disse.
Os indicadores de mercado de trabalho evidenciam a piora na geração de empregos. Nesta sexta-feira (23), foram divulgados os dados sobre o mercado de trabalho no trimestre encerrado em janeiro. A taxa de desemprego atingiu novo recorde, de 12,6%, e o número de desempregados chegou a 12,9 milhões.
No post do Portal Brasil, no Facebook, o governo afirma que as reformas e medidas fundamentais – como o ajuste fiscal que congela os investimento públicos por 20 anos – “recolocam o Brasil novamente nos trilhos do desenvolvimento”.
Para Guilherme, é mais uma contradição da política econômica do governo Temer, pois com o corte dos gastos e investimentos, associado ao aumento do desemprego, eleva a demanda da população pelos serviços públicos.
“Os serviços públicos estão se deteriorando cada vez mais porque as pessoas desempregadas passam a depender cada vez mais do setor e dos serviços públicos. Com a PEC 55 [agora Emenda Constitucional 95] e toda essa discussão da austeridade, com corte no orçamento da saúde, educação, limitação na Previdência no momento em que as pessoas mais precisam, a crise econômica começa a dar ares de crise social”, acrescentou.