Efeito Temer: Negros e mulheres são mais vitimados pelo desemprego

Pesquisa divulgada nesta quinta-feira (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que mulheres e negros são os mais atingidos pelo aumento da taxa de desocupação (desempregados, subempregados e dos que querem trabalhar e não conseguem). Entre os que se autodeclaram negros o percentual é de 14,4% (entre os autodeclarados brancos é de 9,5%) e entre as mulheres é de 13,8% enquanto a dos homens é de 10,7%.

Por Railídia Carvalho

Golpista ataca Marcha das Mulheres Negras com tiros

Os dados do IBGE fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, que divulga os dados do quarto trimestre de 2016. Nesse período a taxa de desocupação registrou 22,2%, mantendo tendência ascendente em relação ao terceiro trimestre que foi de 21,2%. No quarto trimestre de 2015 a taxa de desocupação registrou 17,3%.

Gênero

“Temos denunciado cotidianamente que o golpe no Brasil atinge o povo brasileiro e particularmente as mulheres. Historicamente onde predomina a exploração do capital e a opressão do patriarcado as mulheres são tratadas como cidadãs de segunda categoria”, afirmou Lúcia Rincón (foto), presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM).

A pesquisa detectou que a desvantagem das mulheres em relação aos homens na taxa de ocupação é um movimento comum em todas as cinco regiões brasileiras. São elas também a maioria (50,3%) das pessoas desempregadas e em busca de trabalho.

“O golpe no Brasil e as medidas que têm sido tomadas pelo golpista Temer têm demonstrado isso mais uma vez de maneira profunda. O índice do IBGE é mais um dado que escancara a situação das mulheres do país”, avaliou Lúcia.

De acordo com ela, há uma pressão do capital em prejuízo ao trabalho e à força de trabalho do povo brasileiro. “As políticas desse governo têm desapropriado as nossas riquezas e estão provocando perda de direito e indicando ao povo a necessidade de reafirmarmos a luta para impedir e barrar essa sangria”, enfatizou a dirigente feminista.

Exclusão e precariedade

O agravamento do desemprego também acentua a exclusão imposta à população negra que vê aumentar as desvantagens históricas. “Quando há um cenário como esse de desemprego os primeiros a serem demitidos são os trabalhadores negros e negras. Sempre seremos preteridos por conta do racismo que é estrutural e institucional”, avaliou Rosa Anacleto, presidenta da Unegro de São Paulo.

A PNAD mostrou que o rendimento dos autodeclarados negros é de R$ 1.461, enquanto o dos autodeclarados brancos é estimado em R$ 2.660. O rendimento médio do país é de R$ 2.043, o que coloca o rendimento dos negros abaixo da média.

“O desemprego atinge primeiro os negros, as mulheres negras e depois os demais trabalhadores. Isso empurra os negros para o mercado informal de trabalho. A PEC 55 e a reforma do ensino médio fragilizam as políticas que favorecem essa população daí quando ele vai procurar emprego encontra uma grande desvantagem em relação aos autodeclarados brancos, por exemplo”, exemplificou Rosa.

A Proposta de Emenda Constitucional 55 (PEC) que congela por 20 anos investimentos públicos em saúde e educação foi aprovada em dezembro do ano passado.

Economistas como Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA), contestam essa medida, usada pela equipe de Temer como fundamental para a retomada do crescimento e combate ao desemprego.

Em sua coluna na folha desta quinta-feira (23), a economista afirma já no título “Governo aposta em pilares errados para o crescimento”. Na opinião dela, “seriam necessários autênticos pilares, como investimentos públicos em infraestrutura física e social, reforma tributária progressiva e política industrial estratégica”.