"Violência na Venezuela teria abrandado e oposição se dividido"

Após dois meses de iniciado o conflito nas ruas da Venezuela contrário ao governo do presidente Nicolás Maduro, a onda de violência parece ter abrandado. A leitura é do jornalista e escritor venezuelano Luis Britto García. Em entrevista ao periódico contra-hegemônico La Época, da Bolívia, realizada por Juan Manuel Karg, ele caracteriza como "minoritária” a parcela da população que se insurge contra a política socialista e aponta que a divisão interna da oposição é cada vez mais crescente.

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Primeiramente, ele minimiza as proporções dos manifestos. "A Venezuela tem 335 municípios; os atentados ocorreram, em princípio, somente em 19, logo se reduziram para três e, hoje em dia, são esporádicos, sempre protegidos pelas polícias opositoras locais”, aponta. Os protestos começaram em fevereiro deste ano e perduram até o momento. O setor descontente enfatiza a atual crise econômica por qual passa o país, com alto índice de inflação, escassez generalizada de produtos básicos, grave nível de criminalidade, além de apontar violação de direitos humanos por parte do governo venezuelano.

Para García, no entanto, uma série de violações contra a ética e a veracidade de informação tem sido praticada pelos meios de comunicação massivos, majoritariamente privados e opositores, mantidos por anunciantes de empresas capitalistas. "Falsificam mobilizações de um setor minoritário dentro da mesma oposição, apresentando-as como representação dos estudantes, da juventude ou do país. Se um setor de tal magnitude estivesse contra o bolivarianismo, este jamais teria ganhado as eleições, nem poderia se manter no poder”, opina.

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Segundo ele, a mídia hegemônica teria representado os protestos enganosamente como "pacíficos” e dissimulado ou omitido o que seriam crimes por parte de manifestantes, como a depredação de dezenas de unidades de ônibus públicos, a queima de centrais elétricas, de prédio universitário, dentre outras ações.

García contesta que o governo empreendido pelo ex-presidente Hugo Chávez, morto em 2013, e mantido por Maduro desde então, seja ditatorial, como apontam setores descontentes com a atual conjuntura do país. "Sobre a legitimidade do governo venezuelano, é preciso repetir fatos bem conhecidos: o ex-presidente estadunidense Jimmy Carter declarou que o nosso era o sistema eleitoral mais perfeito ou um dos mais perfeitos do mundo”, citou. "Mas, para a oposição, somente são legítimas as eleições que eles ganham”, complementa.

Segundo La Época, a oposição conservadora da Venezuela evidencia ainda mais a divisão entre duas tendências: uma pretende seguir protestando nas ruas, ligada a Leopoldo López, e outra quer desvincular-se dos atos de protesto, ligada a Henrique Capriles. Os dois são líderes oposicionistas. Para García, tal contexto seria uma "briga de ciúmes” pela liderança da voz contra o governo.

"Em um ou outro momento, todos eles recorrem sem escrúpulos ao golpismo, ao terrorismo e à violência. No presente caso, além disso, houve pronunciamentos separatistas nos estados fronteiriços e uma evidente participação de narcotraficantes e paramilitares nas ações violentas. Isso reabre uma inquietante perspectiva para a política venezuelana”, avaliou.

Fonte: Adital