Crescimento econômico: O nosso diferencial
As formas de relacionamento dos sindicatos de trabalhadores com as empresas, especialmente no setor industrial que começa a dar sinais de reativação dos investimentos, terão influência decisiva na manutenção dos baixos índices de desemprego em 2013, entre nós.
Por Delfim Netto*, colunista da Carta Capital
Publicado 24/02/2013 12:39
Enquanto algumas das mais afluentes economias do mundo fracassaram em 2012 na tentativa de criar (melhor seria dizer, recriar) vagas para reduzir o enorme contingente de 40 milhões de desempregados, com índices de até 25% da força de trabalho, o Brasil terminou o ano com uma taxa de 5,5% de desemprego. E a renda salarial em alta, o que nos colocou em uma situação absolutamente privilegiada diante do mundo. Esse foi o nosso diferencial mais importante, apesar do fraco crescimento do PIB.
A economia está crescendo menos, mas com distribuição um pouco melhor da renda e sem questões graves de emprego em praticamente todas as regiões do País. Há casos localizados, como a redução de vagas (mais de 30 mil postos de trabalho em 2012) em setores da indústria metalmecânica no ABC paulista, causa preocupação maior por serem postos especializados, com produtividade média muito superior à do restante da indústria metalúrgica no Brasil. Era, no entanto, um fenômeno previsível, igual a qualquer lugar do mundo onde o sindicato é muito forte, e as negociações são duras e se realizam em condições sempre difíceis.
Houve um reposicionamento da produção metalúrgica, em geral, e, particularmente, da automobilística, em todo o mundo, pondo em evidência as diferenças entre níveis de salários e de produtividade conforme a região.
Não acontece de modo diferente no Brasil. O trabalhador da indústria no ABC tem piso salarial mensal de 1,6 mil reais. Em Curitiba, em torno de mil reais, uma variação enorme. Não há uma diferença substancial de produtividade nesses setores, mas enquanto o salário médio no ABC é de 4,2 mil reais, em Curitiba é de 2,6 mil. Na indústria em Pernambuco, a situação é ainda mais complicada, e os diferenciais são muito grandes. É o mesmo caso de São José dos Campos, onde o piso é um pouco abaixo de mil reais, mas com salário médio praticamente igual ao de São Bernardo, de 4 mil reais.
Essas circunstâncias, determinadas por inúmeros fatores, produziram a realocação da indústria automobilística e as diferentes situações enfrentadas por elas ao lidar com o ambiente de trabalho.
É por isso que vejo como uma coisa muito inteligente a proposta da CUT de fazer entendimentos nas fábricas, reunindo uma comissão representativa dos trabalhadores, digamos, do “chão de fábrica” (a “peãozada”, de que fala Lula) e os representantes da empresa, para discutir as condições que realmente contam. Por exemplo, como criar um banco de horas, como facilitar formas de preparação profissional, o aprimoramento técnico a ser adicionado, enfim as condições que são próprias e só permitem o entendimento dentro daquela empresa.
Isso é o oposto do que pretendem setores sindicais que cogitam da “instituição de um contrato coletivo nacional”. Não é algo adequado insistir na unificação, uniformizar condições. O que é inteligente é procurar tirar proveito das melhores possibilidades devidas à localização e das produtividades que são totalmente diferentes. Com produtividades diferentes, os salários serão diferentes. Se mantiver essa flexibilidade, é possível encontrar os locais onde se produzirão os automóveis da maneira mais econômica, atendendo não somente o trabalhador da indústria, mas também o consumidor.
Governos, não apenas o federal, mas os estaduais e municipais, não deveriam deixar de aproveitar a situação verdadeiramente privilegiada em que nos encontramos no campo das relações de trabalho para ativar e estimular os entendimentos diretos de sindicatos e empresas, antecipando-se às pressões que estão começando a crescer no mercado de trabalho.
Houve uma mudança importante na estrutura da oferta de mão de obra, especialmente no setor de serviços, onde ela tem sido menor que a demanda e isso acaba mesmo por pressionar a inflação que, obviamente, não interessa a nenhum administrador e muito menos ao consumidor.
Delfim Netto é economista, formado pela USP e professor de Economia, foi ministro de Estado e deputado federal.