Com pandemia e sem auxílio, desemprego vai crescer ainda mais no País
O retorno dos desempregados para o mercado de trabalho – seja com uma ocupação ou, principalmente, procurando trabalho – deve levar ao aumento na desocupação no curto e médio prazos
Publicado 29/01/2021 11:52 | Editado 29/01/2021 22:40
Convém não se iludir com os novos números do emprego no País revelados nesta quinta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No trimestre encerrado em novembro, cerca de 2,7 milhões de trabalhadores brasileiros que estavam desempregados encontraram algum tipo de ocupação. Mas 62% dessas novas vagas foram na informalidade, o que era esperado com o relaxamento das medidas de restrição social. Afinal, o setor informal foi o primeiro afetado pela pandemia.
Porém, mesmo com mais gente trabalhando, tanto a taxa de desocupação quanto o contingente que ainda busca uma colocação permaneceram estáveis, em 14,1% e 14 milhões, respectivamente, devido à volta de parte dos inativos ao mercado. O IBGE considera inativo quem não trabalha nem procura emprego.
Desempregado, para o instituto, é quem procura, mas não encontra emprego no período da pesquisa. E é o retorno dessa população para o mercado de trabalho – seja com uma ocupação ou, principalmente, procurando trabalho – o que deve levar ao aumento no desemprego no curto e médio prazos.
Também divulgados nesta quinta, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que o País fechou 2020 com saldo positivo de 142,7 mil empregos com carteira, ante 644,1 mil em 2019. Mas o Caged só abrange empregos formais, enquanto a Pnad engloba mercado formal e informal. E a Pnad aponta que o contingente de desempregados (14 milhões) segue um dos mais altos da série – e o número de ocupados (85,6 milhões) ainda é 8,8 milhões menor ao de igual período de 2019.
Segundo o economista Cosmo Donato, da LCA Consultores, as rápidas mudanças entre o que o Brasil vivia em novembro e o momento atual tornam frágeis os sinais de uma possível recuperação das vagas. “A conjuntura naquele momento era de um mínimo de distanciamento social e maior mobilidade, que foi o que permitiu a volta da circulação de pessoas”, afirmou. “Minha preocupação é com os próximos meses. Os informais se recuperaram, mas ainda estão muito distantes do que era antes da pandemia.”
Para a pesquisadora Ana Luiza Barbosa, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o mercado estará envolto em muitas incertezas até, ao menos, o mês de março. As inseguranças em relação à pandemia persistem. Com o repique da crise sanitária, a identificação de uma nova variante do vírus e as dúvidas quanto à velocidade da imunização, os dados até o penúltimo mês de 2020 já pertencem a um passado distante.
Donato, da LCA, avalia que as novas medidas de contenção à transmissão do vírus podem levar parte da população a retornar à inatividade – e, assim, deixar de figurar nas estatística de desemprego, apesar de não trabalhar. Se isso acontecer e houver novo recuo da força de trabalho, é improvável que haja um novo pico de desocupação.
Os dados da Pnad Contínua divulgados na quinta apontaram para melhora em nove dos dez setores analisados pelo IBGE. O comércio, impulsionado por compras de fim de ano, empregou 854 mil trabalhadores no trimestre até novembro.
Outro fator que deve ampliar o desemprego é o fim do auxílio emergencial deve provocar um retorno maciço de pessoas à força de trabalho, pressionando a taxa de desemprego. Também no mercado medido pelo Caged, a perspectiva é de um primeiro trimestre de 2021 pior do que o observado nos meses anteriores de 2020, sobretudo pela piora da pandemia, afirma Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).
Apesar de dúvidas sobre a nova metodologia e eventual subnotificação, o Caged tem apontado para uma recuperação melhor do emprego com carteira do que a Pnad. Apenas o setor de serviços encerrou 2020 com saldo negativo (-132,6 mil vagas). O mercado formal foi sustentado pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que permitiu suspensão de contratos e redução de salário/jornada. Foram 20,1 milhões de acordos pelo BEm, com custo efetivo de R$ 33,4 bilhões, segundo o Ministério da Economia.
O governo analisa a recriação do programa, disse o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco. Para Cosmo Donato, da LCA, o BEm teve papel “muito importante”, mas seu efeito já foi. “Caminhamos para um ano com perspectiva de recuperação econômica, ainda que a piora da pandemia acenda um alerta. Talvez não faça mais tanto sentido até para as empresas.”
Com informações da Folha e do Valor