Desemprego chega a 14,3% na 4ª semana de agosto, recorde desde maio
Para economista Fernando de Aquino, do Cofecon, economia vai se recuperar, mas mantendo a tendência de empregos precários.
Publicado 18/09/2020 15:51 | Editado 19/09/2020 06:10
O desemprego chegou a 14,3%, na quarta semana de agosto, um aumento de 1,1 ponto percentual com relação à semana anterior, quando estava em 13,2%. Os dados são da edição semanal da Pnad-Covid, divulgada nesta sexta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com o crescimento, a desocupação atingiu o maior patamar da série histórica da pesquisa, iniciada em maio. A alta acompanha o aumento da população desocupada, representando cerca de 1,1 milhão a mais de pessoas à procura de trabalho no país, totalizando 13,7 milhões de desempregados.
O número de brasileiros em ocupações formais caiu de 55,1 milhões para 54,3 milhões de pessoas, ou seja, 800 mil ocupados no mercado formal a menos no espaço de uma semana. Enquanto isso, aumentou o número de brasileiros em ocupações informais, de 27,6 milhões para 27,9 milhões, 300 mil a mais na comparação com a terceira semana de agosto.
Segundo a pesquisadora Maria Lucia Vieira, coordenadora da pesquisa do IBGE, o crescimento da taxa de desocupação, que era de 10,5% no início de maio, se deve tanto à queda da população ocupada quanto ao aumento de pessoas que passaram a procurar trabalho.
“No início de maio, todo o mundo estava afastado, em distanciamento social, e não tinha uma forte procura [por emprego]. O mercado de trabalho estava em ritmo de espera para ver como as coisas iam se desenrolar. As empresas estavam fechadas e não tinha local onde essas pessoas pudessem trabalhar. Então, à medida que o distanciamento social vai sendo afrouxado, elas vão retornando ao mercado de trabalho em busca de atividades”, analisa.
Isolamento social
A pesquisa mostrou ainda alteração no comportamento da população em relação às medidas de isolamento social. O número de pessoas que fizeram isolamento rigoroso diminuiu pela segunda semana seguida. Um total de 38,9 milhões de pessoas seguiram essa medida de isolamento, com queda de 6,5% em relação aos 41,6 milhões que estavam nessa situação na semana anterior.
Segundo Maria Lucia Vieira, há relação entre o aumento das pessoas em busca de trabalho e a flexibilização do isolamento.
Informalidade
Mas, apesar da queda no isolamento, na quarta semana de agosto ainda houve 16,8 milhões de pessoas que não procuraram emprego devido à pandemia ou por falta de trabalho na localidade onde se encontram. Ou seja, nos próximos meses essas pessoas devem voltar aos poucos a procurar uma ocupação e nem todas serão absorvidas pelo mercado.
O economista Fernando de Aquino, coordenador da Comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon), vê dois movimentos a médio prazo. Um é o aumento do contingente de brasileiros disputando uma vaga. O outro é a criação de vagas em razão da reabertura da economia. O primeiro, afirma, tende a ser mais acelerado.
“As pessoas vão saindo do distanciamento social. Inclusive porque, com o fim do auxílio emergencial, vão precisar ainda mais [procurar emprego]. [Com a retomada], a taxa de desemprego tende a subir, mas o nível de emprego também. Só que o pessoal que está procurando vai aumentar mais rapidamente. Em um horizonte de vários meses, os sinais são de que a economia vai ter uma recuperação. Primeiro em V, depois deve se recuperar lentamente”, avalia.
Para o economista, entretanto, a queda na ocupação formal e o aumento dos ocupados no setor informal sinaliza que a retomada do emprego deve continuar a tendência de precarização do trabalho. “A notícia é essa: Vai recuperar [a economia], mas de forma de precária. O emprego formal está caindo e o informal subindo. O emprego informal é da pior qualidade. Então, você está tendo uma precarização gradual das ocupações”, ressalta.