Crescimento de 1% será “novo normal”, aponta economista
Segundo Marco Rocha, da Unicamp, em um cenário de desemprego elevado como o brasileiro, crescimento dessa ordem é “catastrófico”.
Publicado 19/02/2020 16:23 | Editado 19/02/2020 19:45
Quando o governo Bolsonaro começou, cercado de otimismo e apoio do mercado, a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 era 2,53%, segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central junto a instituições financeiras. As reformas econômicas, diziam, começando pela da Previdência, garantiriam investimentos e empregos.
A realidade ficou aquém do sonho, no entanto. O IBC-Br, indicador de atividade econômica do Banco Central considerado a prévia do PIB oficial, projeta um crescimento da ordem de 0,89% para 2019. De acordo com esse índice, houve contração de 0,27% do PIB em dezembro do ano passado na comparação com novembro. A produção industrial também recuou, reforçando a crença de que a economia desacelera: caiu 1,2% em novembro, após três altas seguidas.
Mas por que a recuperação robusta vendida por Paulo Guedes, e alardeada pelos entusiastas do governo, não se concretizou? E o que esperar de 2020? Não obstante o desapontamento com 2019, o mercado, mais uma vez, está às voltas com previsões otimistas. O Boletim Focus da última segunda-feira (17) trouxe projeção de alta de 2,23% do PIB para este ano.
Consumo das famílias
O economista Marco Rocha, professor do Instituto de Economia e pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e de Tecnologia da Unicamp, discorda do otimismo. Rocha acredita que os arautos da decolagem da economia estão errados em relação a 2020, como estavam em relação a 2019.
Segundo ele, as previsões de crescimento para o ano passado contavam com investimentos impulsionados pela reforma da Previdência. Os investimentos trariam empregos e uma recuperação da demanda. Na prática, no entanto, o consumo das famílias não está respondendo como esperado.
“A recuperação do consumo das famílias está sendo extremamente prejudicada pela reforma trabalhista. Isso está muito relacionado às novas formas de contratação, à informalidade, à uberização. Comprometer a renda com consumo ainda é uma realidade muito distante para a maior parte das famílias”, afirma.
“Novo normal”
Na avaliação do economista, o PIB de 2019 deve crescer pelo menos 1%, em função de fatores como a liberação de parte do saldo do FGTS. O governo de Michel Temer, que liberou todo o saldo das contas inativas, usou estratégia parecida. A política, no entanto, é só um paliativo. Para 2020, Rocha prevê cenário semelhante. O patamar de 1%, diz, será o “novo normal”.
“É quase um piso da economia brasileira, que inclui certo patamar mínimo de investimento público, o consumo do funcionalismo público. São estabilizadores de demanda. Por outro lado, há mais reformas que podem piorar o consumo doméstico, como a reforma administrativa [que trará alterações na estruturação do serviço público a fim de cortar gastos]”, afirma.
Segundo ele, em um cenário de desemprego elevado como o brasileiro, um crescimento dessa ordem é “catastrófico”. “As pessoas estão sem alternativas e não há a menor perspectiva de melhorar a situação, pois a economia anda a um ritmo muito lento”, explica.
Dólar alto
O economista destaca ainda que existe uma aposta do governo na desvalorização do câmbio na esperança de que isso contribua para a recuperação da indústria nacional. O dólar mais alto favorece as exportações, o que poderia estimular o crescimento. Paulo Guedes delineou esse pensamento ao tecer loas aos benefícios do dólar valorizado, na ocasião em que afirmou que, quando a moeda estava barata demais, “empregadas domésticas iam para a Disney”.
“Existe certa aposta não explícita do governo, mas não se justifica. A indústria brasileira está muito combalida. Perdemos a capacidade de competir em vários mercados. O Brasil passa por um processo de desindustrialização muito avançado. Não dá para fazer frente a isso só com desvalorização do câmbio. No curto prazo, o dólar alto pode comprimir ainda mais o consumo das famílias, pois impacta os preços de vários bens, como automóveis”, avalia Marco Rocha.
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