Renato Rabelo: Os 200 anos de Karl Marx
A teoria revolucionária de Marx continua atual, propiciando o seu próprio desenvolvimento, porquanto não é uma teoria fechada, acabada, sendo a sua metodologia a mais avançada na análise e síntese no desenvolvimento das formações político-econômicas e sociais da humanidade.
Publicado 21/05/2018 14:01
Na abertura do Seminário sobre os 200 anos do nascimento de Karl Marx, realizado no último sábado (19/5) em São Paulo – e patrocinado pela Fundação Maurício Grabois que por sua vez completou 10 anos desde seu início — tive a oportunidade de fazer a seguinte análise:
Temos imenso regozijo de celebrar os dez anos da inauguração da Fundação Mauricio Grabois e comemorar nesta oportunidade, de modo destacado, os duzentos anos do nascimento de Karl Marx.
Faz parte da nossa homenagem a Karl Marx – este luminar do pensamento revolucionário – o evento que agora realizamos e a publicação composta por uma coletânea de 28 autores(as) que hoje lançamos. Tanto o Seminário como a Coletânea intitulados pela consigna – DESBRAVAR UM MUNDO NOVO NO SÉCULO 21 – reúne renomados professores(as) de importantes instituições acadêmicas, estudiosos da doutrina de Marx, e quadros pesquisadores(as) da FMG e do PCdoB.
A relevância e o desenvolvimento da obra de Marx alcançam vários ramos do conhecimento, abordando vários troncos temáticos e compreendendo extenso trabalho como cientista, mas também como jornalista de análise política e econômica, ativista revolucionário, envolvido nos conflitos políticos e participante de várias organizações de trabalhadores de sua época.
A sua teoria tornou-se a primeira a apreender o mundo como um todo que é, ao mesmo tempo, politico, econômico, cientifico, filosófico e cultural. O seu legado é definidor de um método dialético e materialista de análise das sociedades humanas, que passou a ter validade histórica-universal, mantendo sua atualidade como teoria da transformação e da mudança revolucionária do capitalismo. O Secretário Geral do Partido Comunista da China, Xi Jinping, em grande Conferência Nacional comemorativa ao nascimento de Marx, afirmou que a “Teoria de Karl Marx, dois séculos depois, ainda brilha com a luz da verdade”.
É evidente que as circunstâncias temporais nas quais Marx refletia e agia sobre os desenvolvimentos políticos e econômicos são bastante distintos das atuais. Contudo, essas reflexões — nas suas grandes obras e inúmeros e variados artigos de jornais e revistas — oferecem uma significativa riqueza analítica, capaz de contribuir na abordagem e aprofundamento do curso histórico contemporâneo e para compreender, até mesmo, algumas das previsões equivocadas de Marx.
No entanto, determinadas questões estruturais de sua época são muito semelhantes às atuais, e várias das previsões de Marx sobre a evolução e desenvolvimento do sistema capitalista são válidas na atualidade, porquanto a essência e as contradições fundamentais do sistema são as mesmas.
Muitos são os casos da redescoberta de Marx por estudiosos e inclusive por capitalistas e seus sêniores e consultores econômicos após a grande crise capitalista que irrompeu em 2007-2008. E muitos desses responsáveis pelas decisões de politicas econômicas manifestam-se na mesma direção ao reconhecerem que “a dinâmica atual do capitalismo é exatamente o que Marx tinha previsto”. Recentemente, a revista inglesa The Economist (porta-voz do liberalismo mundial) publicou com destaque um artigo intitulado: “Governantes de todo mundo, leiam Karl Marx”.
Hoje se têm estudado e comparado sua obra com a situação atual – de um capitalismo financeirizado e rentista – o modo como Marx tratou o capital a juros e o capital fictício, compreendendo-os como as formas mais desenvolvidas do capital. Ademais, se volta a Marx acerca da dramática perspectiva atual, com a supressão tendencial do trabalho humano, produto da revolução tecnológica na produção.
Esta é uma situação que expõe a contradição fundamental do modo de produção capitalista descrita por Marx. Ou seja, a forma de desenvolvimento das forças produtivas leva ao aumento progressivo da composição orgânica do capital (maior capital constante e menor capital variável), que vai gerando o declínio da taxa de lucro.
Aparecem, assim, de forma nítida os limites do capitalismo, donde a realização dos lucros do capital vai se tornando praticamente mais difícil com a progressão das revoluções tecnológicas produtivas e a concorrência entre os capitalistas, tendo como corolário o aumento da exploração do trabalho, tendendo à precarização total do trabalho, crescendo o desemprego, aprofundando a desigualdade e acentuando a queda da demanda. Determinados autores da Coletânea, que lançamos hoje, tratam dessas questões.
A teoria revolucionária de Marx continua atual, propiciando o seu próprio desenvolvimento, porquanto não é uma teoria fechada, acabada, sendo a sua metodologia a mais avançada na análise e síntese no desenvolvimento das formações político-econômicas e sociais da humanidade. A sua aplicação permite entender e responder as questões dos grandes desafios para o avanço civilizacional, que suplante o capitalismo, nas condições do limiar do Século 21.
Por fim, quero destacar, que nesses 10 anos de sua existência, a FMG vincou uma trajetória disseminando ideias e formando lideranças.
A Fundação estabeleceu um programa de trabalho e fixou prioridades no vasto universo da batalha de ideias, tais como:
— O estudo das singularidades do capitalismo contemporâneo, notadamente a análise acerca da grande crise que teve início em 2007-2008 e ainda não se findou; a revolução tecnológica e produtiva, que alcança um quarto patamar disruptivo, levando os meios de trabalho a mudanças significativas no perfil da classe trabalhadora;
— As tendências do sistema internacional contemporâneo e a luta por nova ordem mundial; uma reconfiguração em transição com a emergência de novos polos de poder;
— O estudo e debate acerca das lições da rica experiência revolucionária do século XX, sobretudo da experiência de construção do socialismo na URSS; o estudo da contribuição, principalmente de Lenin, à teoria revolucionária do século passado, e a sua atualidade;
— A análise e estudo dos caminhos da nova luta pelo socialismo; nos países que mantém à perspectiva socialista, nos países do centro do capitalismo, e nos países da periferia e semiperiferia do sistema internacional.
— A jornada pela resistência e superação do neoliberalismo e da luta anti-imperialista e do neocolonialismo, com foco no Brasil e na América Latina; a grande tarefa de defender, disseminar, renovar e enriquecer a teoria revolucionária de Marx, Lenin e outros grandes líderes revolucionários.
A Fundação Maurício Grabois, no presente, cumpre importante papel de — ao lado das fundações do PT, PDT, PSOL, e do PSB — buscar elaborar uma convergência programática pela Reconstrução e o Desenvolvimento do Brasil, que descortine um pacto eleitoral progressivo da esquerda e das forças progressistas brasileiras nas eleições marcadas para outubro.
A FMG crescentemente desempenha a tarefa que se propôs com referência ao trabalho intelectual desenvolvido por quadros do PCdoB, em interação e diálogo com pensadores, intelectuais e organizações e instituições do campo marxista e progressista do Brasil, e também de outros países. Hoje está presente com seções estaduais, nos seguintes estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará.
Foram realizados centenas de seminários, debates, oficinas, colóquios, consoantes à sua finalidade mais geral. Em parceria com a Editora Anita Garibaldi, com editoras de universidades, e outras, publicou mais de 80 livros! Estabeleceu um intercâmbio com a tradicional revista Princípios – fundada pelo histórico dirigente comunista João Amazonas – que, na última década, participou ativamente da luta de ideias, com 60 edições.
Em convênio com a Escola Nacional de Formação João Amazonas, promoveu cursos e atividades de formação dos quais participaram mais de 30 mil dirigentes e militantes do PCdoB. Além disso, mantém intercambio com várias entidades internacionais progressistas, integra as atividades do Fórum de São Paulo e participou com agendas próprias e associadas de edições do Fórum Social Mundial.
Por fim, agradecemos a todos e todas que conosco atuaram e colaboraram para o êxito de nosso trabalho. E seguimos contando com esse aporte para que a Fundação Maurício Grabois siga se expandindo e florescendo.