Publicado 09/03/2018 15:54

O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, entregou ao ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, documento com 1.500 páginas, com mais de 32 mil assinaturas e a subscrição de 56 sociedades científicas de todo o país, em defesa do pesquisador Elisaldo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No último dia 21, Carlini foi intimado a depor à polícia de São Paulo, acusado de fazer apologia ao crime.
Junto com as assinaturas reunidas em uma semana, Moreira entregou o manifesto “’Somos Todos Carlini”. Professor emérito da Unifesp, Elisaldo Carlini é um dos mais importantes pesquisadores sobre drogas e tem se dedicado à defesa da liberação da maconha para fins medicinais. Segundo a SBPC, Kassab se comprometeu encaminhar os documentos ao ministro da Justiça, Torquato Jardim, juntamente com uma carta sua, apontando para a relevância dessa manifestação.
O presidente da SBPC e o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, aproveitaram a 5ª Reunião do Conselho Consultivo do MCTIC para entregar as assinaturas e falar sobre a necessidade de a pasta defender a liberdade de pesquisa. “É uma questão que está ameaçada por esse fato e por outros similares que vêm acontecendo no país”, disse Moreira.
Representantes de outras entidades presentes à reunião, como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), também expressaram apoio à campanha e destacaram preocupação com a autonomia das universidades e dos pesquisadores.
Elisaldo Carlini tem 87 anos, dos quais 62 anos dedicados à pesquisa, que renderam, entre outras coisas, mais de 12 mil citações de seus trabalhos em artigos científicos de todo o mundo.
A intimação pela polícia causou indignação em toda a comunidade científica e acadêmica. Em 23 de fevereiro, a SBPC e a ABC divulgaram manifesto público repudiando com veemência um inquérito policial contra um professor reconhecido mundialmente por seu trabalho e por ter organizado um simpósio sobre o uso terapêutico da maconha, em maio de 2017.
Após a publicação, o documento recebeu o apoio de dezenas de sociedades científicas de todo o Brasil, e diversos professores, pesquisadores, personalidades políticas e estudantes enviaram solicitações para também assinar a manifestação. Diante dos pedidos, a SBPC lançou uma petição pública online, chamada “Somos Todos Carlini”. Em menos de dez dias a manifestação, que permanece ativa neste link, já recebeu mais 33 mil assinaturas.
O manifesto ressalta que Carlini é um cientista premiado internacionalmente, por ter desenvolvido, ainda na década de 1970, pesquisas pioneiras que caracterizaram a ação anti-convulsivante da maconha. Suas descobertas permitiram a formulação de medicamentos utilizados em diversos países para tratar doenças como epilepsia e esclerose múltipla. “Acusar o dr. Carlini de apologia às drogas equivale a criminalizar a inteligência e o conhecimento técnico-científico”, destaca o manifesto.
Segundo o texto das entidades científicas, esta ação é “uma provocação cruel e vazia contra um cientista que dedicou toda sua vida à fronteira do conhecimento”.
O caso repercutiu internacionalmente, em especial na edição da revista Nature de ontem (8). A reportagem destaca a adesão ao abaixo-assinado e a preocupação dos cientistas com potenciais restrições à liberdade acadêmica. O periódico britânico ressalta ainda a brilhante carreira de Carlini, considerado um pioneiro no mundo inteiro nas pesquisas relacionadas à maconha.