Publicado 15/02/2017 18:07
Temer disse isso para justificar que o desemprego não terá solução tão cedo. Segundo ele, não será com um “passe de mágica”, mas com “o combate à recessão econômica”, tentando surfar nos dados da “queda da inflação” para dizer que o país está no caminho certo. No entanto, para entrar nos trilhos de vez precisa aprovar o pacote de reformas que seu governo encaminhou ao Congresso Nacional.
“Até para uma surpresa muito agradável, com alegria cívica que temos, a inflação veio de 10,70 para 6,23 em seis meses apenas. A inflação deste mês de janeiro foi a melhor registrada nos últimos 20 anos. Isso tem que ser levado em conta. Nós temos que considerar estes fatos para que outros fatos eventualmente criticáveis não possam superar aqueles que são positivos para o país”, disse ele. Nos “fatos eventualmente criticáveis” apontados por Temer, inclui-se a retirada de direitos e corte nos investimentos públicos, principalmente nas áreas de saúde e educação.
Porém, ao mesmo tempo em que Temer faz pose de grande estadista em defesa do desenvolvimento, ele reafirma que tudo está no campo das incertezas. Sobre a meta da inflação disse que “é provável que nós consigamos uma inflação, digamos, menor do que aquela de 4,5%, talvez de 4%, quem sabe menos, de inflação”.
Segundo ele, “isso significa uma esperança e uma confiança para os investidores”. Coincidentemente, essa retórica foi a mesma utilizada pelo jornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, nesta quarta, floreada com uma reportagem que dizia que a inflação em queda já criava expectativa de geração de empregos.
A estratégia de mídia e de Temer é tentar criar a imagem de um presidente empenhado em combater a recessão. E fica só no discurso, pois segundo especialistas do próprio mercado, o alto nível do desemprego no Brasil vai conter as pressões inflacionárias até 2019, apesar da “esperança de recuperação econômica”.
Ainda segundo economistas, o desemprego contribuirá para que a alta dos preços permaneça em torno do centro da meta oficial neste período.
Fontes citadas pela Reuters afirmam que o principal canal que vai captar esse cenário é o setor de serviços, cuja inflação é mais atrelada ao poder aquisitivo da população, que verá o desemprego subir ainda mais neste ano, para acima de 13%, com recuperação lenta em seguida.
“Mesmo que exista retomada, a economia ainda opera muito abaixo da capacidade, o que significa que há muita máquina ociosa e mão de obra desempregada”, avaliou o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, em entrevista à agência de notícias. “Não vemos movimento forte o suficiente para o ciclo econômico gerar pressão inflacionária”, completou.
De acordo com esses analistas, o excesso de mão de obra ociosa mantém os salários baixos e provoca retomada mais lenta do consumo, o que acaba ajudando a segurar a inflação. Em 2014, o consumo das famílias subiu 2,3%, mas em 2015 já recuou 3,9%, e vem caindo a cada trimestre, chegando em 3,4%, comparado ao mesmo período de 2015.
Diante desse cenário, todos perdem: os trabalhadores, com a redução da sua renda, os empresários com a queda do consumo, e o governo com a queda da arrecadação. Como a conta não fecha, a saída exigida pelo mercado e adotada por Temer é cortar direitos. Com o desemprego elevado, o trabalhador perde o seu poder de pressão por aumentos reais dos salários e, consequentemente, o consumo também cai força a queda sobre os preços.
Mas enquanto o governo repete diuturnamente que o país precisa das reformas para gerar emprego, o mercado estabelece com o governo a lógica para as reformas: é preciso “flexibilizar” os direitos, pois fortes regulações trabalhistas dificultam cortes de salários ou demissões, forçando empresas a aumentar os preços quando custos aumentam.