Ciro: Cobrar austeridade de Temer é esperar maracujá em pé de maçã
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) defendeu, em entrevista ao Zero Hora, que a “essência do golpe” está nas reformas da previdência e trabalhista que a gestão provisória propõe. O pedetista disse que Michel Temer é muito mais “irresponsável” do ponto de vista fiscal que a presidenta Dilma Roussef. Para Ciro, a crise não será resolvida sem aumento de impostos e um ajuste só será possível com a economia aquecida.
Publicado 24/08/2016 17:30
“Eu acredito que ainda teremos uma grande discussão olímpica de quem será enganado. Porque esperar colher um maracujá de um pé de maçã é improvável. [Eliseu] Padilha, Moreira Franco, Michel Temer e Romero Jucá formam uma quadrilha de marginais. Esperar austeridade daí é esperar maracujá de um pé de maçã”, disse.
A gestão interina tem sido criticada por propagar o discurso da austeridade e pregar corte de gastos sociais, ao mesmo tempo em que amplia despesas concedendo benesses a seus aliados.
Segundo Ciro, uma vez superado o processo de impeachment, o Congresso “vai voltar à sua hiperfragmentação ideológica, já mirando as eleições”. Nesse sentido, ele avaliou que será difícil que Temer consiga aprovar a sua pauta de retirada de direitos. “Quero ver esses calhordas corruptos conseguirem votar uma emenda à Constituição que reduzirá despesas com aposentados, universidades e SUS”, atacou.
O ex-ministro também analisou que haverá resistência popular à plataforma do governo. “Fora a ira popular. A maioria das pessoas ainda está paralisada pela decepção com o governo Dilma, mas conforme a conversa avançar haverá revolta popular. Evidentemente não vai ser tão fácil como eles pensam que vai ser”, previu.
Ciro rechaçou a ideia de que a os indicadores econômicos têm apresentado melhora. “Isso é mentira da grande mídia. Não tem nenhum sinal de melhora com consistência. Quando se vive uma depressão profunda, como a que estamos vivendo, a riqueza brasileira cai nove pontos percentuais em 24 meses, acontece o efeito fundo do poço: você bate e volta. Ainda com a Dilma esse fundo do poço já estava se aproximando. Tivemos a explosão do câmbio que ajusta uma série de coisas importantes no país e que não foi nenhuma providência tomada pelo governo”, afirmou.
De acordo com ele, a “irresponsabilidade fiscal” que era alardeada pela então oposição para criticar a presidenta eleita Dilma Rousseff, ocorre mesmo é agora, com Temer. “Esse governo interino é muito mais irresponsável. Do jeito que está ano que vem a dívida pública se aproximará de 90% do PIB. Isso trava a taxa de juro em um momento de queda da inflação. O que torna o juro real no Brasil muito alto, impedindo o sistema produtivo de reagir”, colocou.
Segundo ele, para o país sair da crise, será precisa promover, sim, um ajuste, mas não em meio à recessão. Primeiro seria preciso, portanto, fazer a economia voltar a crescer. Para isso, Ciro crê que é preciso enfrentar algumas tensões e aumentar imposto.
“O ajuste fiscal que nós precisamos é tão violentamente grave que não é possível em ambiente contracionista. Se você não tomar a decisão de retomar o crescimento econômico e bancar os riscos, tensões e contradições inerentes a isso e se também não introduzir aumento de impostos não há menor chance nos próximos 24 meses [de sair da crise]. Principalmente com um governo ilegítimo, que não tem nenhuma moral para pedir nada de ninguém”, opinou.
Sobre o processo de impeachment da presidente eleita, Dilma Rousseff, Ciro avaliou que há “uma chance remota, improvável” de a petista não ser afastada. “Mas precisamos lutar até o fim porque a História fará o registro dessa fase. E será um registro muito azedo se consumado o impeachment. O país entrará em uma instabilidade de uma, duas décadas a partir disso. E a primeira vítima será o golpista, salafrário e traidor Michel Temer”, completou.