Ajuste de Temer poupa o 1% mais rico do país
No Valor Econômico desta sexta (17), o colunista Fernando Torres escreve que os brasileiros que tiveram rendimento anual tributável acima de R$ 316 mil em 2014, ou acima de R$ 26,3 mil brutos por mês, ficaram no topo da pirâmide, onde se concentra o 1% mais bem remunerado entre os que declararam Imposto de Renda. Ao assegurar reajustes salariais para servidores que estão neste grupo do 1% mais rico, o presidente provisório Michel Temer deixa a elite fora do ajuste fiscal, aponta o jornalista.
Publicado 17/06/2016 16:13
De acordo com dados da Receita Federal, 273 mil brasileiros se enquadram neste reduzido grupo. "Vale notar que esses cidadãos enquadram-se no centil mais rico entre os 27,3 milhões de pessoas que declararam IR em 2014. Mas representam menos de 0,15% da população total", afirma Torres.
E questiona a lógica de o presidente provisório Michel Temer e a maioria do Congresso Nacional resolverem garantir reajustes para servidores públicos que integram a elite do 1% mais rico, "ao mesmo tempo em que se pede sacrifício para o povão".
"Se a sociedade como um todo terá que dividir a conta do rombo fiscal, por que garantir gasto extra de R$ 68 bilhões até 2018 com a elite do funcionalismo público?", quer saber o jornalista.
Para ele, os argumentos de que já havia um acordo prévio com a categoria e de que a despesa já estava prevista no Orçamento não se sustentam, uma vez que os ministros da área econômica da presidenta eleita Dilma Rousseff não levaram a medida adiante justamente por causa do ajuste.
Além disso, o apreço do governo ao que já estava previsto nas planilhas financeiras da gestão anterior não se verifica em relação a outros temas, como, por exemplo, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), cujo retorno Temer resolveu engavetar – ao menos por enquanto.
"Enquanto isso, na vida real, a renda média do brasileiro do setor privado é de R$ 1,1 mil, o salário mínimo é de R$ 880 e se jura que a única maneira de equilibrar as contas do país é garantir que o piso do INSS fique abaixo disso", encerra o jornalista.