Comenda Socorro Abreu: PCdoB/Fortaleza homenageia mulheres
Tendo como tema os 50 anos do Golpe Militar de 1964 e, ainda, encerrando as atividades alusivas ao Dia Internacional da Mulher, o Comitê Municipal do PCdoB em Fortaleza realizou, na última quarta feira (16/04), a entrega da Comenda Socorro Abreu.
Publicado 18/04/2014 08:35 | Editado 04/03/2020 16:27
Tendo como tema os 50 anos do Golpe Militar de 1964 e, ainda, encerrando as atividades alusivas ao Dia Internacional da Mulher, o Comitê Municipal do PCdoB em Fortaleza realizou, na última quarta feira (16/04), a entrega da Comenda Socorro Abreu.
Instituída em 2000, por iniciativa da Secretaria de Mulheres do PCdoB, a comenda traz o nome da militante comunista Socorro Abreu, jovem terapeuta ocupacional, que aos 26 anos foi assassinada a mando do ex-marido. A homenagem anual tem como marca a reverência às mulheres de grande destaques públicos e também às quase anônimas que também ajudam diariamente a elaborar um novo livro para nosso povo, com páginas repletas de ousadia e com a tinta da liberdade.
Em 2014 a comenda chegou à sua 14ª edição e ganhou um formato especial, sendo realizada em abril, por ocasião dos 50 anos do Golpe Militar no Brasil, e homenageando mulheres que tiveram suas trajetórias de vida ligadas à resistência à ditadura. O evento, aberto com a apresentação do Coral dos Bancários, regido pelo maestro Rogério, foi realizado no Auditório César Uchôa, localizado na sede do Comitê Municipal do PCdoB de Fortaleza.
Uma das homenageadas da noite, a psicopedagoga Ruth Cavalcante relembrou os anos de chumbo enfrentados pelo país e relatou as dificuldades especialmente enfrentadas pelas mulheres que optaram pela resistência. “Éramos todos muito amigos, movidos pelo amor. E era esse amor que nos fazia acreditar na possibilidade de transformação. Até hoje mantemos esse elo de amizade, ainda amo do mesmo jeito meus companheiros de luta, como Carlos Augusto Patinhas e sua grande companheira Noélia, heroicos resistentes. Ainda tenho como referência de vida os mesmos ideais que nos moveram naquele momento e continuo acreditando no amor e na solidariedade como elos fundamentais para o nascimento de um novo mundo, mais humano e justo e com a participação ativa das mulheres”.
Com a voz embargada, docemente emocionada, a enfermeira e servidora pública Noélia Ribeiro agradeceu e relembrou a importante participação de outras mulheres que, assim com ela, viveram o desafio da clandestinidade. “Queríamos nossas famílias, queríamos estudar, construir um lar, mas tudo isso nos foi tomado. A ditadura queria impedir nossos sonhos e hoje, passados tantos anos, podemos afirmar que eles não conseguiram. Continuamos firmes e provamos que não eram sonhos juvenis. Nossos corpos, hoje mais envelhecidos, podem não mais responder com a mesma energia, mas em nossas cabeças não falta disposição para contribuir com esse novo momento vivido pelo povo brasileiro. Seguimos diariamente acreditando na felicidade de um mundo justo socialmente e essa é a prova viva de que fomos vitoriosos”. Abraçada ao marido, Carlos Augusto Patinhas, militante comunista perseguido durante o regime, Noélia apontou para a foto projetada na parede em que aparecia sua família. “Nossos filhos, noras e netos. Conseguimos resistir, construímos nossa família e nunca desistimos de colocar nossos tijolos na reconstrução do nosso partido, o PCdoB”.
Ao lado de Ruth e Noélia também foram homenageadas a médica Helena Serra Azul, que ressaltou a delicadeza do evento, com suas flores vermelhas oferecidas a cada uma das agraciadas; a produtora cultural Rejane Reinaldo; a professora Mônica Martins; a farmacêutica Helena Lutéscia; a administradora Tânia Gurjão de Farias; Tereza Cristina Cavalcanti de Albuquerque e Argentina Meneses.
Ao receber a comenda das mãos do deputado federal Chico Lopes, Tânia Gurjão, recém filiada ao PCdoB, agradeceu relembrando a mãe Luiza Gurjão, e o irmão Bergson Gurjão, morto pelo exército brasileiro na Guerrilha do Araguaia. “Sempre tivemos essa ligação com o PCdoB, não uma ligação apenas emocional, mas ideológica, de referencial. Ser homenageada nessa noite, com uma comenda que traz o nome de uma mulher combativa e das fileiras do partido, me faz ter a certeza de que, de fato, o PCdoB, é mesmo meu verdadeiro lugar. Quero emprestar minha força e meu trabalho para ajudar ainda mais nosso povo e assim também manter vivas as memórias de minha mãe e meu irmão”.
“Essa noite ficará em minhas memórias afetivas durante muito tempo, sinto- me honrada por ter participado dela. É impressionante como a comenda anualmente nos traz ainda mais emoções. Saio hoje desse evento com minha alegria renovada e agradecida a essas mulheres pelo exemplo de luta que doam às novas gerações. Nos espelhemos diariamente nelas” relatou ao fim do evento a secretária de organização do PCdoB/Fortaleza, Viviane Rodrigues.
Expressão de encantamento e com sua linda marca de empolgação unida a um olhar de emocionadas lágrimas, Nágyla Drumond, secretária municipal de movimentos sociais, compareceu ao evento acompanhada da filha Clarice: “Minha menina, hoje, teve uma bela aula de vida, de luta, de liberdade. Por quase três horas, na sede do comitê municipal do PCdoB, 8 mulheres, sobreviventes da ditadura no Brasil, nos falaram de amor ao povo, ao país, à nação. Elas se emocionaram ao lembrar das marcas q trazem no corpo e na alma, mas, se emocionaram muito mais quando afirmaram a necessidade de aprofundar a democracia, de lutar pelo Socialismo e fazer a humanidade feliz, em todo e qualquer lugar do mundo. Sinceramente, por um instante, parecíamos ser uma só, unas, múltiplas, diversas, felizes,com a convicção das que não desistem jamais”.
De Fortaleza,
Andrea Oliveira (estagiária do Vermelho/CE)