Juan Torres López: A importância do emprego feminino
Dois renomados centros de pesquisa dos Estados Unidos (o Center for American Progress e o Center for Economic and Policy Research) acabam de publicar um relatório elaborado por Eileen Appelbaum, Heather Boushey e por John Schmitt que revela dados muito importantes sobre o efeito que o emprego feminino tem sobre o conjunto da economia e que parece ter uma grande relevância sobre o que pode acontecer na Espanha no futuro imediato.
Por Juan Torres López*
Publicado 17/04/2014 14:52
O relatório chega, entre outras, às seguintes conclusões:
A porcentagem de mulheres que trabalham fora de casa em tempo integral e durante todo o ano (ao menos 35 horas por semana e 50 semanas por ano) aumentou de 28,6% do total de mulheres, em 1979, para 43,6% em 2007. Em 2012, caiu para 40,7% como consequência da crise.
O aumento na participação das mulheres no mercado de trabalho que são mães tem sido inclusive maior, pois passou de 27,3%, em 1970, para 46% em 2007, caindo para 44,1% em 2012.
Como consequência desse aumento, o número de horas trabalhadas pelas mulheres aumentou de 739 de 1979 a 2012, apesar de esse crescimento ter acontecido entre 1979 e 2000. O número de horas trabalhadas pelas mulheres que são mães também aumento bastante, 960 horas no mesmo período.
Se esse aumento na participação das mulheres no mercado de trabalho não tivesse acontecido, o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos teria sido 10,6% menor, o que significaria aproximadamente 1,66 bilhão de dólares menos em atividade.
Fica demonstrado, portanto, que fomentar o trabalho feminino não apenas supõe combater um tipo de discriminação trabalhista e social sempre injusta, permitindo que as mulheres tenham as mesmas possibilidades que os homens para ter autonomia e para decidir sobre suas vidas, mas também faz com que a economia funcione globalmente melhor.
E essa conclusão não é válida somente para os Estados Unidos (de fato, o relatório ressalta também que esse país ficou para trás dos demais nesse aspecto). Na Espanha e na Europa, em geral, deveríamos refletir muito seriamente sobre o que está acontecendo e sobre as consequências que as políticas atualmente implementadas terão no futuro.
Para poder suavizar o efeito dos cortes nos serviços públicos, nos salários e nos empregos, a intensificação do trabalho doméstico não remunerado está sendo novamente fomentada. Para isso, voltam a fortalecer esteriótipos machistas e patriarcais que vinculam as mulheres às tarefas de cuidar do lar, permitindo que o maior número de horas de trabalho doméstico se concilie com um emprego em tempo parcial muito mal pago. Essa é a explicação não apenas para as reformas trabalhistas, mas também da intensidade com que a cultura sexista e reacionária que está sendo novamente difundida, apesar de parecer que já estava quase extinta de nossas sociedades.
Fazer com que a economia funcione melhor e de maneira mais satisfatória obriga a reverter essa tendência que está sendo imposta. É fundamental melhorar as condições em que as mulheres decidem sobre suas vidas e sobre sua atividade no mercado de trabalho, proporcionando os meios que sabemos serem os que tornam isso possível: serviços públicos de qualidade, escolas infantis, empregos dignos com estabilidade no posto de trabalho e salários decentes para mulheres e homens.
E, claro, exigindo de toda a sociedade, especialmente dos homens, uma corresponsabilidade plena na hora de realizar o trabalho doméstico, do qual depende o bem-estar, a felicidade e a reprodução de nossa existência.
*Tradução de Daniella Cambaúva
Fonte: Público.es