Seminário revela presença feminina na construção civil
Mais de 150 mulheres estiveram reunidas em Salvador, no sábado (13/3), para participar do seminário “Cem Anos de Março Mulher”, promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção e da Madeira na Bahia – Sintracom.
Publicado 16/03/2010 20:55 | Editado 04/03/2020 16:20
A atividade integra as homenagens aos 100 anos do Dia Internacional da Mulher, celebrado no último dia 8, e contou com a adesão de trabalhadoras da capital e de municípios do interior, a exemplo de Juazeiro, Barreiras, Senhor do Bonfim, Ipiaú, Jequié, Irecê, Feira de Santana e Teixeira de Freitas.
A organização de um evento voltado para debater a condição feminina revela a crescente inserção de mulheres nesse ramo de atividade. “O encontro é a oportunidade para um momento de reflexão das mulheres que trabalham no ramo da construção civil, antes um trabalho exclusivo de homens, e que demonstra que as mulheres podem atuar em qualquer área”, destacou a deputada federal Alice Portugal (PCdoB), na abertura do seminário. De fato, a última pesquisa encomendada pelo Sintracom ao Dieese, datada de 2007, aponta índice de apenas 5,6% de participação da mulher na construção civil; incluídas aí as funções administrativas.
O presidente do Sindicato, Raimundo Brito, afirma que tem havido um crescimento evidente da inserção de mulheres no setor. “Não temos ainda resultados de pesquisas recentes para uma estimativa do crescimento da mão de obra feminina na produção, mas o crescimento no número de contratações na construção civil registrado nos últimos três anos, em torno de 10%, tem refletido numa maior absorção das mulheres no mercado. Hoje, temos obras com 20 a 30 mulheres trabalhando na produção”, avalia.
Segundo Brito, a participação feminina é mais recorrente nos serviços de rejuntamento de azulejo, mas o setor está para empregar duas turmas formadas apenas por mulheres (em torno de 80), recém qualificadas pelo SENAI em cursos de eletricista e encanamento, entre outros. “Mas o preconceito não deixe de haver. Inclusive, tem empresas que não admite mulher de jeito nenhum na produção”, criticou.
A discriminação se reflete dentro do próprio ambiente de trabalho: os canteiros de obras não dispõem de vestiários ou sanitários exclusivos para mulheres. A disparidade salarial é outro tabu a ser quebrado; e não só na construção civil. Mesmo ocupando os mesmos cargos, as mulheres ganham, em média, 37% a menos que os homens. A discrepância é ainda maior entre as negras, cujos salários são 10% inferior ao das mulheres brancas. Sem esquecer também que são maioria absoluta em casos de assédio moral no trabalho.
“A qualificação da formação das mulheres é importante para que aprendam a defender seus direitos e se impor perante a sociedade; principalmente aquelas que trabalham dentro da produção, expostas a assédio moral e sexual. Quando passa a ter conhecimento de seus direitos, a mulher tem mais força para lidar e combater esse tipo de prática, procurar o sindicato e fazer a denúncia”, defendeu a secretária geral do Sintracon, e uma das organizadoras do seminário, Lúcia Maia.
O evento tratou também do combate à violência doméstica e familiar e de questões da saúde da mulher, como a prevenção do câncer de colo do útero e do câncer de mama. Entre os palestrantes, a integrante da executiva nacional da União Brasileira de Mulheres – UBM, Daniele Costa; a médica e integrante do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, Julieta Palmeira; o ginecologista e diretor do Sindicato dos Médicos da Bahia, Francisco Magalhães; e a diretora da União de Negros pela Igualdade – Unegro, Ubiraci Matildes.
De Salvador,
Camila Jasmin