Grande mídia perde o barão Octavio Frias, dono da “Folha”
Morreu na tarde deste domingo (29), aos 94 anos, o empresário Octavio Frias de Oliveira, proprietário do Grupo Folha – que é responsável pelo jornal Folha de S.Paulo. Desde novembro, ele vinha se recuperando de uma cirurgia para a retirada de um
Publicado 29/04/2007 19:36
Depois de atuar no serviço público e nos ramos financeiro e imobiliário, em 1962 Frias adquiriu a Folha de S.Paulo em sociedade com Carlos Caldeira Filho. Ao perder o sócio, anos depois, apostou num modelo de jornalismo que levou a Folha à liderança do mercado de jornais brasileiros.
A Folha é a base do que é hoje um reino midiático que abrange o maior portal de internet do país, o UOL, o jornal Agora, o Folha Online, o Instituto Datafolha, a editora Publifolha, a gráfica Plural e o diário econômico Valor, em parceria com as Organizações Globo.
Apesar da pouca influência jornalística que vinha mantendo no jornal, Frias continuava a receber visitantes, supervisionar as empresas e emendar pessoalmente os editoriais da Folha – até ser hospitalizado em 2006.
Apoio à ditadura
Sob sua gestão, o principal mérito da Folha foi dar visibilidade aos comícios e à luta pelas Diretas-Já, em 1984, embora o jornal tenha sido complacente com a ditadura militar brasileira durante mais de duas décadas.
Em agosto de 2006, foi lançada sua biografia, A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira, que dá margem às estripulias pessoais do personagem, pouco destacando seus laços governistas. “Como toda a imprensa, o grupo Folha apoiou o movimento militar no início”, admite com ressalva Engel Paschoal Paschoal, autor do livro.
À época do regime militar, devido ao conservadorismo, o jornal foi alvo de atentados da guerrilha. Em diversas ocasiões, caminhões da Folha foram usados por equipes do DOI-Codi para operações de repressão à oposição armada.
Cooptação
A maior chance de a Folha desafiar a ditadura ocorreu em 1977. No dia 1º de setembro, o colunista Lourenço Diaféria publicou o texto “Herói. Morto. Nós”, sobre um bombeiro que salvara a vida de um garoto num poço de ariranhas no zoológico de Brasília. Diaféria o comparava ao duque de Caxias e falava da estátua de Caxias, em São Paulo: “O povo está cansado de estátuas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal”.
Segundo Frias, a reação na Folha foi de indignação: “Ficamos muito irritados e resolvemos manter a coluna em branco, enquanto o Diaféria não fosse solto”. Até que o general Hugo Abreu, chefe da Casa Militar, telefonou para Frias. “Se amanhã sair a coluna em branco no jornal novamente, o seu jornal será fechado. E o senhor também será enquadrado na Lei de Segurança Nacional”.
E a Folha decidiu não publicar a coluna em branco nas edições seguintes. No lugar do esquerdista Cláudio Abramo, a secretaria de Redação foi assumida por Boris Casoy. Alberto Dines deixou de assinar a coluna do Rio.
O nome de Frias como diretor-presidente foi retirado da primeira página. Ele e Caldeira se afastaram oficialmente da direção da empresa. Em meio a ousadias e cooptações, a trajetória de Fria pode ser resumida numa frase de sua autoria: “Não me arrependo de nenhuma decisão que eu tomei.”