Pais são obrigados a adivinhar conteúdo de programas de TV
Em nota para o site Vi o Mundo, o jornalista Luiz Carlos Azenha questiona e condena a Abert, que conseguiu liminar contra a classificação indicativa. Na opinião de Azenha, “os concessionários de um serviço público agem como se fossem latifundiári
Publicado 28/04/2007 20:13
Pais brasileiros são obrigados a advinhar conteúdo de programas de rádio e tevê
Por Luiz Carlos Azenha
Não gostou (da imagem ao lado)?
O problema é seu.
Você deveria ter o dom de prever o futuro – o mesmo que os pais brasileiros têm, segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Tevê, a Abert.
Como sabemos, o andar de cima no Brasil é dividido em duas turmas: os poderosos de ocasião e os poderosos de sempre.
Entre os “de ocasião” estão aqueles que foram eleitos pelo povo.
Os de sempre… eles sempre mandaram, trocando de pele de acordo com a ocasião.
Donatários das capitanias, senhores de engenho, latifundiários, capitães da indústria e do mato e controladores amotinados do espectro eletromagnético.
Estou falando da liminar obtida pela Abert para barrar a programação de tevê por faixa etária, de acordo com o conteúdo.
A decisão foi saudada por artistas como vitória contra a “censura”.
Estatuto do Menor e do Adolescente?
Dane-se. Só vale se for para reduzir a maioridade penal.
“Quem deve decidir o que os filhos assistem na tevê são os pais, não o estado”, alegam os indivíduos que representam a Abert.
Sim, isso só é possível no Brasil graças ao dom da clarividência que, como você sabe, pais e mães brasileiros ganham automaticamente – no dia do nascimento do filho.
Este poder de antevisão permite aos pais saber antecipadamente qual será o conteúdo da próxima atração.
Assim, preventivamente, podem retirar os filhos da sala.
É curioso como qualquer tentativa de regulamentar o setor midiático é recebida com gritos de censura!
É um desrespeito àqueles que realmente foram vítimas de censura no regime militar, dentre os quais não se incluem integrantes da ABERT.
O desprezo pela inteligência do público é aviltante.
Os concessionários de um serviço público agem como se fossem latifundiários do espectro eletromagnético.
São os donos do ar que a gente respira.
Você é tratado como consumidor, nunca como cidadão.
Porque, na verdade, você é um dos donos do espectro eletromagnético.
Você banca, com o dinheiro de seus impostos, toda a infra-estrutura montada para permitir o funcionamento das emissoras de rádio e de televisão.
Ou você acha que o Ministério das Comunicações é pago com dinheiro dos radiodifusores?
Em seu nome, o estado brasileiro concede a eles o direito de transmitir sons e imagens.
E se os parlamentares ou o governo que você ajudou a eleger decide criar alguma regra para o setor…
Censura!
Lembre-se. Você é apenas um consumidor. Quer dar palpite? Aí já seria levar a sério essa história de cidadania.
Só eles sempre foram, são e serão cidadãos plenos – inclusive para definir quais são os seus direitos e deveres.
Você tem o direito de comprar.
Você tem o dever de ver e ouvir. Calado, se possível.
Numa enquete promovida pelo Estadão, 77% dos internautas disseram concordar com algum tipo de controle sobre o horário dos programas de tevê.
Foi uma pesquisa não científica.
Duvido que as emissoras de rádio e tevê aceitem fazer e divulgar uma pesquisa do Ibope a respeito.