Ouvidoria suspeita que polícia de SP promoveu execuções
A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo investiga as três mortes causadas por policiais na sexta-feira passada (23), que resultou na prisão de 1.675 pessoas no estado. A polícia paulista respondeu por mais de três quartos das prisões, e a totalidade
Publicado 27/03/2007 13:53
“Há testemunhas importantes de que eles teriam sido executados. Em ambos os casos, eles ficaram grande tempo sem assistência. E a descrição, na realidade, parecia uma cena de um filme”, afirma o ouvidor, referindo-se à maneira como os casos foram registrados nos Boletins de Ocorrência.
“Parece filme”
As duas mortes a que o ouvidor se refere são a de um adolescente, morto em uma favela no Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo, e a de Sidnei Dionísio Mendes, morto em Riversul, cidade a 362 km da capital. O primeiro é apontado como traficante e teria sido alvejado quando tentou reagir com uma submetralhadora. Testemunhas dizem, porém, que quando ele foi atingido já estava rendido, desarmado e implorava para não morrer.
No segundo caso, o homem apontado como assaltante teria tentado atacar a polícia utilizando uma enxada e os policiais teriam atirado para contê-lo. “Parece filme. Eles atiraram e ele continuou andando com a enxada. Foi preciso mais de um disparo para ele parar de dar enxadadas”, ironiza Funari Filho, que ressalta o fato de, mesmo ferido, o suspeito não ter tido atendimento médico adequado. “A viatura, onde ele ainda se debateu, teve o pneu furado a caminho do hospital. Eu nunca vi uma situação dessas.”
O terceiro caso é o da morte de Anderson Barros Santana, no Jardim Miriam, também na Zona Sul de São Paulo. Apontado como chefe de uma quadrilha especializada em roubar laptops perto do Aeroporto de Congonhas, ele teria sido baleado em uma troca de tiros e morreu a caminho do hospital. A ouvidoria da polícia ainda aguarda o envio do Boletim de Ocorrência para apurar a morte.
No fim do dia, ao fazer um balanço da megaoperação, o delegado-geral da Polícia Civil, Mário Jordão Toledo Leme, afirmou que os suspeitos reagiram e que “houve confrontos sérios”. “A polícia tem preocupação com a legalidade de suas ações e não iríamos abrir mão de cumprir a lei”, resumiu o delegado-geral.
Recorde de mortes em 2006
Para o ouvidor Antonio Funari Filho, a tendência é que o número de mortes causadas por policiais diminua este ano. Em 2006, ano que ficou marcado pelos ataques do PCC, organização criminosa nascida nos presídios paulistas, houve um aumento de 77,6% do número de civis mortos por policiais em relação a 2005. Foram 533 vidas tiradas por policiais, segundo levantamento da Secretaria de Segurança Pública.
“Houve um crescimento principalmente em maio. Depois, foi tudo voltando ao normal. Nossa última reunião demonstra que nos primeiros meses o número tem diminuído”, diz o ouvidor. “Uma das coisas que provoca letalidade é o medo e a surpresa, mas tem muitos casos que não tem nada a ver com confronto. Muitas mortes, a gente verifica que na verdade houve acerto de contas, tanto entre bandidos como entre bandidos e policiais”.
87 casos, cinco resolvidos
A apuração, segundo o ouvidor, é demorada. “Já vai completar um ano e de 87 casos foram esclarecidos daquela época temos cinco mortes resolvidas, nas quais não havia envolvimento de nenhum policial”, afirma.
Funari Filho ressalta que há sim casos em que policiais fazem armações
“cinematográficas” para disfarçar uma execução. “Há um caso de resistência seguida de morte em Guarulhos, em que descobrimos que a pessoa havia sido detida na Praça da República uma hora antes de o crime acontecer. No BO, constava seqüestro, roubo de automóvel e tiroteio, só que o homem foi encontrado morto com mais dois que não sabiam nem guiar”, relata.
“Outro caso foi o de um policial e a irmã que morreram assassinados. No começo, se atribuía o crime a integrantes de uma facção criminosa, depois descobrimos que era uma rixa entre policiais”, conta o ouvidor.
Com informações do G1