Exército israelense se estrepa em ação ilegal contra Hezbolá
Foi uma autêntica batalha campal em pleno cessar-fogo. Mas o alarde feito pela Inteligência do Exército de Israel resultou em um fiasco. Ainda não havia amanhecido quando vários helicópteros do Tsahal (Como os israelenses chamam o seu exército) aterrizara
Publicado 22/08/2006 11:12
Pelo chão, os israelenses viajaram cerca de 10 quilômetros até o vale do Bekaa, tentando entrar na localidade de Budai, 20km a leste de Baalbek. Até esse lugar a operação, que tinha como objetivo chegar até o escritório do líder local do Hezbolá, o xeque Mohamed Iazbek, transcorria sobre rodas.
Entretanto, os comandos especiais cometeram erros. ''Eles estavam uniformizados como soldados libaneses. Falavam com as pessoas que encontravam pelo caminho em árabe e diziam: Salam, nahnu minkun (Paz, estamos convosco). Foi quando o povo daqui percebeu que o sotaque deles não era libanês: ninguém faz uma saudação em árabe dizendo Salam, mas dizemos Assalam aleikum'', explicou Suhaila, uma moradora vizinha de Budai, de 47 anos, que presenciou o desembarque dos comandos israelenses pela janela de sua casa. Na aldeia, majoritariamente xiita, vivem cerca de 4 mil pessoas.
Os veículos percorreram uns 30km, mas, ao chegarem a uma mata, acabaram caindo em uma emboscada do Hezbolá, que já seguia há algum tempo os comandos disfarçados. ''Três soldados israelenses e um oficial morreram, embora alguns digam que existem mais mortos. Ninguém do Hezbolá morreu'', conta Walid, marido de Suhaila. Outras fontes contam que os israelenses perderam seis homens na ação, enquanto o Hezbolá teria perdido três guerrilheiros.
Os guerrilheiros do Hezbolá não estavam sozinhos: ''Todos os moradores do povoado se uniram a eles para repelir os israelenses. Atacaram e dispararam contra eles na mata. O enfrentamento se prolongou durante uma hora. As aeronaves israelenses tentaram dar cobertura a eles, mas o Hezbolá já tinha alcançado seus veículos'', completa Walid.
Por fim, os disfarçados israelenses conseguiram fugiram e, em um campo aberto não muito longe dali, embarcaram nos helicópteros que vieram resgatá-los. No meio do campo de trigo recém plantado e na plantação de tabaco ainda se podem ver os restos da batalha: sangue e munição.
Momentos depois, jovens vestidos com uniforme militar e camisetas com o rosto de Hassan Nasralá, o líder do Hezbolá, circulavam pelo mesmo campo, fazendo troça dos israelenses. ''Vieram para tentar uma vitória, para tentar consolar-se da grande derrota. Mas nunca poderão vencer a resistência, porque todos nós somos a resistência'', jactavam-se.
Das 21h45 de sexta-feira até a amanhã de sábado o céu esteve coalhado de caças, helicópteros e aviões-espião. No vai-e-vem aéreo, um dos caças bombardeou uma ponte próxima à aldeia.
Israel alegou que o objetivo da operação era cortar o fornecimento de armas da Síria e do Irã para o grupo liderado por Nasralá. A aldeia de Budai se encontra a uma distância de 30km da fronteira libanesa com a Síria.
Os habitantes de Budai asseguram que é a terceira vez que os comandos israelenses se aventuram a pé pela área. Mas esta foi a primeira vez que fizeram uma incursão desde o sábado que marcou o início do cessar-fogo. Se trata, portanto, da primeira violação do acordo decretado pelas Nações Unidas. ''Estamos aqui, ilhados, longe do deslocamento do exército libanês, Israel rompe o cessar-fogo quando quer e não temos nenhuma proteção internacional nem de nosso governo'' queixa-se Suhaila.
O governo libanês se mostrou indignado pela infração e pediu explicações às Nações Unidas, cujo secretário-geral, Kofi Annan, visitará essa semana a capital do Líbano. O primeiro-ministro Fouad Siniora, classificou a operação do ''Tsahal'' como uma ''violação flagrante do cessar-fogo.