A Compreensão da Essência Humana na Teoria Marxiana (parte I )
Em a Ideologia Alemã Marx e Engels afirmam: “Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começaram a diferenciar–se dos animais tã
Publicado 02/05/2006 10:34 | Editado 04/03/2020 16:52
São muitas as definições que buscam respostas às questões, o que é o homem, qual sua essência e o que o diferencia dos demais animais. Alguns pensadores buscam responder essas interrogações com um conteúdo essencialmente metafísico, utilizando-se da razão e da religião, retirando do homem seu leito histórico, além de desconsiderar suas origens biológicas.
Marx e Engels criticaram categoricamente essa abordagem, desconstruindo – a através da introdução de uma visão histórica do desenvolvimento humano, que começa a ser definida à medida que este produz suas condições de existência, distinguindo-se assim dos demais animais. Em a Ideologia Alemã Marx e Engels afirmam: “Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começaram a diferenciar–se dos animais tão logo começaram a produzir seus meios de vida. (…) Produzindo seus meios de vida, os homens produzem, indiretamente, sua própria vida material”.1
Em Marx e Engels há a rejeição do determinismo de uma essência humana constituída aleatoriamente aos fenômenos objetivos em desenvolvimento, afirmada por espécie animal mais razão. O homem é construtor da história e numa relação dialética com a natureza, resultado da mesma. Ainda em a Ideologia Alemã dizem: “A história nada mais é do que a sucessão de diferentes gerações, cada uma das quais explora os materiais, os capitais e as forças de produção a ela transmitida pelas gerações anteriores; ou seja, de um lado prossegue em condições completamente diferente a atividade precedente, enquanto, de outro lado, modifica as circunstâncias anteriores através de uma atividade totalmente diversa.”2
A teoria marxiana do papel do trabalho na definição da formação humana, não pode ser analisada como a auto-produção do homem pelo trabalho como princípio auto-suficiente, mas deve levar em consideração o acúmulo e desenvolvimento anterior, o que permitirá, ser este, sujeito de um processo universal, e sua história depende dos meios encontrados, sendo inerente à sua existência a necessidade de desenvolvê-los. Sua universalidade é o conteúdo da própria história.
Em Marx o homem é visto como parte integrante da natureza, produto da mesma e, enquanto ser natural, prescinde da natureza, tendo como pressuposto a sua própria natureza, ou seja, a natureza de seu organismo. Ao analisar o homem enquanto parte da natureza, MARX (1989:164 e 1987:206), no primeiro e no terceiro dos Manuscritos de 1844, afirma: “A natureza é o corpo inorgânico do homem, isto é, a natureza na medida em que não é o próprio corpo humano.
O homem vive da natureza, quer dizer: a natureza é o seu corpo, com o qual tem de manter-se em permanente intercâmbio para não morrer. Afirmar que a vida física e espiritual do homem e a natureza são interdependentes significa apenas que a natureza se inter-relaciona com ela mesma”. “O homem é imediatamente ser natural. Como ser natural, e como ser natural vivo está, em parte, dotado de forças naturais, de forças vitais, é um ser natural ativo; estas forças existem nele como disposição e capacidades, como instintos; em parte, como ser natural, corpóreo, sensível, objetivo, é um ser que padece, condicionado e limitado, tal qual o animal e a planta; isto é, os objetos de seus instintos existem exteriormente, como objetos independentes dele; entretanto, esses objetos são objetos de seu carecimento, objetos essenciais, imprescindíveis para a efetuação e confirmação de suas forças essenciais”.
O homem é parte da natureza, inseparável dela, portanto é um ser vivo que possui limites, está condicionado como qualquer outro ser vivo as leis gerais da natureza. A satisfação de suas necessidades não pode ser atendida fora dos limites de seu intercâmbio com a natureza.
Esta também só pode ser atendida com um passo à frente de sua condição meramente animal, visto como a produção de seus meios de vida, que ao serem produzidos geram novas necessidades e conseqüentemente nova ação, caracterizando não um ato, mas um processo contínuo, gerador de uma cultura humana.
A resposta sobre o que é a essência do homem transcende os elementos dos traços comuns humanos comparativos a outras espécies. A história humana coloca-se para além de características instintivas, biológicas, os meios encontrados são variados, as relações sociais que determinam o alcance de suas possibilidades variam. A apropriação da cultura anterior dada não se dá por vontade própria, mas construída objetivamente. Para Leontiev (1978b: 274) os traços que definem uma espécie podem ser abstraídos do estudo de alguns representantes da espécie, visto que essas características fundamentais são encontradas em todos.
Graduado em filosofia, Secretário de Formação do Comitê Estadual do PCdoB – Minas Gerais.
Notas
(1) MARX e ENGELS. A Ideologia Alemã. Tradução de José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira.São Paulo, Editora HUCITEC,1996 pg.27.
(2) Idem, p.70