Belo Horizonte sitiada
Por Gilson Reis*
A capital mineira, a pacata Belo Horizonte, sedia desde o dia 29 de março até o dia 5 de abril, a assembléia anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O BID é parte dos organismos multilaterais, responsável por desenvo
Publicado 03/04/2006 23:43
Passarão ou estão presentes em Belo Horizonte, neste dias, os principais formuladores do chamado consenso de Washington. Conforme proposta destes senhores, que comandam as deliberações desses organismos para a América Latina, a ordem é reorganizar uma nova etapa para aplicação do projeto neoliberal, denominada Novo Regionalismo.
O Novo Regionalismo tem como metas dois objetivos neste próximo período: o processo de privatização dos setores de infra-estrutura dos Estados nacionais, que ainda não foram privatizados (energia, água, saneamento, estradas, portos, comunicação, etc.), bem como introduzir no projeto neoliberal um “caráter mais humano”, com a focalização de políticas compensatórias. O modelo segue o seguinte figurino: privatizar o que resta dos setores estratégicos dos países da América Latina com distribuição de migalhas, para justificar, perante a sociedade, a fracassada política neoliberal dos últimos 15 anos no Brasil e na região.
Para realizar todas as negociatas e transações, o governador de Minas Gerais mobilizou o maior e mais bem preparado aparato militar desde a ditadura militar. A repressão militar não é novidade pelas bandas de Minas Gerais. Desde o início do governo, a polícia militar mineira vem tratando o movimento social de forma criminosa. Ao longo destes últimos três anos, várias denúncias foram feitas contra o governador e sua política de repressão a sindicalistas, professores, estudantes, trabalhadores sem-terra, comunidades da periferia, etc. O movimento social vem denunciando, há muito tempo, a atitude fascista do governador mineiro, cuja administração, aos olhos do Brasil, respeita a democracia e os movimentos sociais.
Para o encontro do BID, Aécio extrapolou toda e qualquer noção de civilidade e de convivência democrática. Desde sexta-feira, com a chegada da marcha do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e da Via Campesina — que vieram do interior do estado para participar do Fórum Paralelo —, o comando da Política Militar, sob a orientação do governador Aécio Neves, vem tratando o movimento social de forma violenta e truculenta. Depois de três dias de repressão total, o movimento saiu às ruas, numa manifestação pacífica, que deveria juntar-se a outra manifestação que ocorria no centro da capital mineira. Porém, desde sábado a polícia não permite qualquer manifestação de rua, dizendo que as passeatas prejudicariam a imagem do estado.
Na manhã desta segunda-feira (03/04), parte do centro de Belo Horizonte amanheceu sitiado. Milhares de policias não permitiram que trabalhadores fossem ao trabalho, sem que fossem molestados ou reprimidos. Por volta das 10 horas, a manifestação seguia de forma pacífica e ordeira quando novamente a polícia tentou bloquear a passeata. Depois de muito empurra-empurra, os manifestastes foram para o confronto. O que se viu nas mediações da Cemig, empresa estatal mineira, foi um campo de guerra. Várias pessoas machucadas, pernas e braços quebrados, mais de 20 companheiros e companheiras presos e muita indignação da população.
Contudo, mesmo sob toda a repressão o movimento continua unido e na luta. Estamos preparando para hoje e amanhã várias manifestações e uma grande passeata que deverá sair da Praça da Assembléia Legislativa até o centro da capital, logo após uma atividade proposta pelo Fórum Paralelo, que denunciará os crimes contra os trabalhadores rurais sem-terra em Minas Gerais.
Companheiros de todo o Brasil, os mineiros precisam de solidariedade neste momento de extrema repressão. Os trabalhadores e o povo de Minas Gerais lutam contra o neoliberalismo, contra a criminalização dos movimentos sociais, contra um governo fascista — mas, fundamentalmente, lutam pela democracia.
* Da CUT Nacional