A poesia de Gustavo Felicíssimo nos lembra o horror da guerra. É um apelo ao que nos resta de humanidade.
Publicado 28/10/2023 11:13 | Editado 28/10/2023 11:14
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos mostrar-Te
o nome do Teu filho impresso
no cano de poderosos fuzis
e em antigos livros que unem
e separam os homens.
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos mostrar-Te
aquele franzino Davi
montado em poderosos helicópteros
e tanques de guerra
subjugando o seu irmão.
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos mostrar-Te
o choro desesperado da criança
sobre os escombros que soterraram seus pais
tornando-a mais uma entre milhões
de órfãos esquecidos de todas as guerras.
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos mostrar-Te
os silos e armazéns abarrotados
de milho e soja, trigo e açúcar
enquanto metade da humanidade não dorme
com medo da que não come.
(Inspirado em Josué de Castro)
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos, enfim, ver-Te
com estes olhos que a terra há de comer
e para que Possas também nos lembrar
que a videira é seca, suja e torta:
que este vale é feito de lágrimas.