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Paulo Mendes Campos: Impressão Do Brasil

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Brasil é quando se começa a crer
no vir a ser do que se pode ver


 


pode ser uma fuga de ipoméias
pode ser contraponto de ninféias


 


Brasil é riachão com um cavalo
fio de sangue a madrugar o galo


 


dourados agarrados na tarrafa
do lenço da baía anil garrafa


 


o pescador atira o aranhol
de teias luminosas: cai o sol


 


e mar! amar! e mar! e mar! amar!
o mar! o mar! talassa! o mar! o mar!


 


Brasil: aves de luz dão entrevistas
em fusões ilusões impressionistas


 


Brasil é só aquilo que ele é
pode ser Turner pode ser Mane


 


do ''Deus do Céu assim eu nunca vi!''
quando se vê o que se vê aqui


 


O crioulo que leva uma rabeca
depois que tudo o mais levou a breca


 


entre cacos de pedra uma criança
criada à nossa imagem e semelhança


 


Brasil flamengo luso americano
gauguim monet seurat corintiano


 


dos mineirões gigantes morumbis
maracanãs pelés gregos tupis


 


Brasil é preto-e-branco brasileiro
preto de branco-branco de pandeiro


 


Brasil de jaburu nefelibata
de ornato calipígio de mulata


 


do vermelho alagado de amarelo
dos falos e das flores de labelo


 


de luz e cor do amor ao desamor
das brisas tamisadas do calor


 


dos prateados módulos lunares
de seus arranha-céus orbiculares


 


dos degraus sagrados de memória
por onde o pobre agora sobe à glória


 


das cobras em tensão no bambual
das tardes de modinha imperial


 


Brasil do devagar tão de repente
e um vendaval de cores corre a gente.


 


Melhores Poemas – Paulo Mendes Campos
Seleção de Guilhermino César
Direção Edla Van Steen
Editora Global – 2ª edição 1997