Os 70 anos de quando a Brasil de Santos subiu a serra e levou o Carnaval de SP

A Campeoníssima, como é conhecida, ganhou nada mais nada menos que os desfiles de 1954, o do Quarto Centenário da capiltal paulista

O pavilhão da Brasil, no desfile de 2024 | Foto: Wagner de Alcântara Aragão

A Escola de Samba Brasil, de Santos, tem celebrado em 2024 os 75 anos de vida. Nas comemorações, a lembrança de uma façanha: os 70 anos da conquista do Carnaval na capital.

Isso mesmo. Em 1954, os desfiles das escolas de samba de São Paulo tiveram como campeã uma escola de fora. A Brasil, ainda uma agremiação novata, subiu a Serra do Mar e desbancou as coirmãs paulistanas.

Vale destacar que os desfiles de 1954 foram revestidos de um simbolismo especial. Afinal, era o Carnaval do ano do Quarto Centenário de fundação da cidade de São Paulo.

Na história do Carnaval paulistano, 15 escolas já foram campeãs, de 1950 em diante. A Brasil de Santos é a única, nessa lista, situada fora do município de São Paulo.

Vilma da Silva Pereira, da Velha Guarda da Brasil | Foto: acervo pessoal

Quem tem esse episódio fresquinho na memória é a hoje integrante da Velha Guarda da Brasil, Vilma da Silva Pereira. Ela foi uma das centenas de componentes da agremiação santista que desfilaram na capital e voltaram a Santos com o troféu.

Nascida em 8 de julho de 1939, Vilma ainda iria completar 11 anos de idade quando desfilou pela primeira vez na Brasil, no Carnaval de 1950. Quatro anos depois, antes de fazer 15 de idade, lá esteve ela na histórica apresentação de 1954.

Em relato ao Vermelho, Vilma conta:

“Saí em uma ala de fadas. Havia dez moças nessa ala. Foi um ano muito bom. Ganhamos o campeonato aqui [em Santos] e o do Quarto Centenário [em São Paulo]. Foi uma euforia muito grande. O resultado saiu no mesmo dia. Então soubemos logo que tínhamos ganho. Foi aquela farra, aquela bagunça. Subimos [para a capital] umas cinco horas da tarde. Sabe como era Carnaval antigamente, [os desfiles] demoravam muito, até começar, tudo… teve muito atraso. Mas foi muito bom!.”

Brasil, o país, a nação, foi enredo da Brasil naquela noite memorável.

A escola é originária do Macuco. Há décadas, porém, está situada no conjunto habitacional chamado pelos santistas de BNH (por ter sido construído, nos anos 1970, pelo então Banco Nacional de Habitação). O BNH, embora seja habitado pelas classes populares, fica no bairro Aparecida, da Zona da Orla. É citado na música “Tudo que ela gosta de escutar”, de Charlie Brown Jr.

Vilma mora também no BNH. Sabe que o momento presente da Brasil não é dos melhores. Está sem sede e quadra, nos desfiles de 2024 não conseguiu se manter no grupo especial, e desfilará no de acesso em 2025.

Mas Vilma sabe igualmente da tradição e força da Brasil. Do seu primeiro desfile, em 1950, até 1963 foram 14 títulos consecutivos da escola no Carnaval de Santos. Não por outra razão ganhou o apelido de Campeoníssima. As outras três conquistas vieram bem depois: 1991, 2006 e 2007.

Diante de tanta força, há esperanças no horizonte. Existem tratativas para a sonhada quadra. Além disso, agora em maio, um projeto de lei aprovado na Câmara Municipal declarou a Brasil como patrimônio imaterial de Santos (a coirmã X-9 e o Samba da Mangueira, no Morro São Bento também foram contemplados com tal título).

Para que os novos desafios sejam encarados, Vilma, com suas sete décadas de experiência na Brasil, pede comprometimento com o samba:

“Peço muito amor. Fazer com vontade. Sem exibição, sem nada. Vamos fazer, trabalhar [pelo Carnaval, pela escola de samba] com vontade. Como eu trabalhei, também. Não pensando em nada, só pensando na escola. É o que peço: trabalhem, mas pensando na escola. Porque lucro, a gente não tem nenhum. Mas tem o amor. Só isso que peço: muito amor, muito amor mesmo. E tem que ter muita paciência, porque é difícil, muito difícil.”

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