Ele esteve à frente do histórico concerto público no Anhangabaú que reuniu cerca de 1 milhão de pessoas e ajudou a impulsionar as Diretas Já
Publicado 03/08/2020 13:48 | Editado 03/08/2020 20:14
O maestro Benito Juarez, principal expoente da Orquestra Sinfônica de Campinas e um dos fundadores do Coral da USP, morreu nesta segunda-feira (3), aos 86 anos. A informação foi confirmada pelo filho do músico, André Juarez nas redes sociais. Segundo familiares, Benito estava em uma clínica de idosos em São Paulo e faleceu na madrugada desta segunda-feira. A causa da morte não foi divulgada.
“Meus amigos, comunico o falecimento do meu amado pai, o maestro Benito Juarez. Descanse em paz, Baxoca. Vou honrar seu nome sempre. ‘Muita força, moleque!!!’”, registrou André, no Facebook. O maestro deixa cinco filhos e netos. André é regente do Coral da USP. Carmina Juarez, filha de Juarez, atua como orientadora de técnica vocal do mesmo coral.
Nascido em 17 de novembro de 1933 em Januária, no interior de Minas Gerais, Benito Juarez de Souza foi um dos grandes responsáveis pela popularização da música clássica e também pela valorização da música popular brasileira. Um dos marcos da trajetória do maestro foi a atuação dele com a Orquestra Sinfônica de Campinas – ele foi regente e diretor artístico do grupo durante 25 anos, até 2001. Por causa de seu falecimento, o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), decretou luto oficial de três dias.
Em 1967, Benito ajudou a fundar o Coral da USP (CoralUSP), existente até hoje. Nesta segunda, o coral reverenciou e agradeceu o maestro, a quem descreveu como amigo, pai, mestre e revolucionário: “Partiu o Maestro das multidões. Benito Juarez tinha o encantamento de arrebatar dezenas, centenas, milhares de pessoas. Reunir vozes, prosas, driblar o tempo, transformar os silêncios, falar ao povo das ruas e das grandes salas de concerto”, expressou o CoralUSP, em nota.
Em 1973, Benito foi eleito Melhor Regente pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). Dois anos depois, recebeu, também da associação, o Grande Prêmio da Crítica pelo trabalho realizado com Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas e o CoralUSP.
Em 2002, o maestro também criou e foi regente titular da Banda Sinfônica do Exército. Além disso, foi Benito quem fundou o departamento de música e a Orquestra Sinfônica da Unicamp, instituição na qual deu aulas de regência. Em 2008, ganhou o prêmio Melhor Projeto Musical Erudito.
Consciência política
Além de artista virtuoso, Benito Juarez se destacava pelo engajamento político e pela adesão às bandeiras democráticas e progressistas. Em 16 de abril de 1984, nos estertores do regime militar, ele esteve à frente do histórico concerto público no Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo, em favor das eleições diretas para presidente. A atividade reuniu cerca de 1 milhão de pessoas e ajudou a impulsionar o movimento Diretas Já.
“Mais de 1 milhão de pessoas em silêncio, mãos entrelaçadas, braços para cima. Ao sinal do maestro Benito Juarez, da Orquestra Sinfônica de Campinas, a multidão cantou o Hino Nacional. Do céu caía papel picado, papel amarelo, a cor das diretas, brilhando à luz dos holofotes. No Vale do Anhangabaú, muita gente chorou”, registrou, no dia seguinte, a Folha de S.Paulo.
Segundo o jornal, um dos “momentos de emoções na maior manifestação popular já ocorrida no Brasil” ocorreu “quando a Sinfônica de Campinas tocou a Quinta Sinfonia de Beethoven, cujo prefixo iniciava os noticiosos da BBC durante a guerra contra o nazismo”. Além da a Quinta Sinfonia em Dó menor Op. 67, a orquestra executou Capriccio Espagnol, de Nikolai Rimsky-Korsakov.
Amigo do PCdoB, Benito também participou do evento em comemoração dos 75 anos do partido, na Casa de Portugal, em São Paulo, no dia 25 de março de 1997. Na ocasião, o maestro regeu a apresentação especial da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas.
Da Redação, com agências