Publicado 16/10/2020 15:09
Dois mil e vinte
A pandemia cruza nações globalizadas
Como um raio de dor e desespero
Deixando um rastro de luto e medo
Avassaladora e irreversível
De repente
Respirar já não é possível
Médicos estão impotentes
Centenas de milhares de mortos
Condenados ao abandono compulsório
Morte sem velório
Morte sem os rituais de despedida
Que a humanizam
Morte sem abraço ou pranto
Morte sem direito a um olhar
De quem nos ama
Morte sem direito a drama
Morte que afasta e contamina
Morte sem ladainha
Morte que transtorna e indigna
Morte sem compaixão
Morte abraçada a uma hedionda solidão
Morte sem uma palavra de adeus
Morte, quase sem Deus
Morte sem choro nem vela
Sem flores e sem capela
Morte sem padre ou perdão
Morte sem arrependimentos
Morte sem redenção
Morte sem lamentos
Morte sem oração
Morte sem terço nas mãos
Morte sem ostentação
Ricos e pobres no mesmo saco
Hermético, padronizado
Morte de assombrar coveiros
Guerreiros derradeiros
Arriscando as vidas na linha de frente
Enterrando gente amada
Como meros indigentes
São Luís, 13-10-2020