“Agora essa notícia: Morreu Sérgio Ricardo.
E eu, ao telefone, desconcertado.”
Publicado 05/08/2020 12:36
A morte do cantor e compositor Sérgio Ricardo (1932-2020), no último dia 23 de julho, levou o escritor e poeta Gustavo Felicíssimo a escrever o poema Canção da Partida, que o Prosa, Poesia e Arte reproduz abaixo.
CANÇÃO DA PARTIDA
Havia Marília. A urbe.
E havia uma janela de trem
e o destino em direção ao exílio.
E havia uma paixão deixada.
Era qual uma cena de cinema?
O trem partindo e alguém correndo,
correndo, correndo pela gare
em direção ao impossível?
Havia uma sina a ser cumprida.
E havia o Rio de Janeiro,
esse Rio que é o mundo inteiro,
onde foram buscar os mesmos sonhos
todos aqueles que eram Mais.II
E houve Glauber. E houve Alceu.
Houve muito o que fazer.
E houve também o Vidigal.
Houve aquele Beto, aquele Beto
bom de bola que era eu e éramos nós.
Era o Mané. Era o Garrincha.
E houve aquela noite em 1967.III
Mas são sabia o menino do seu destino
quando com suas malas naquele trem.
Não, não sabia, eu sei. Sabemos!
Mas sentia ele o borbulhar da fera,
o feixe de luz que emanava do seu âmago?IV
Agora essa notícia: Morreu Sérgio Ricardo.
E eu, ao telefone, desconcertado.
Mas mesmo convulso pensei:
não morre quem na vida faz da arte
[a sua Vida.
Não morre quem ao lado do seu próximo
faz do próximo o seu Irmão de caminhada.
A arte ate poderia ser considerada uma vida a parte, pois quem faz arte, faz da arte uma outra vida e seja lá quem for que faça arte, seja Sergio o Ricardo o Augusto dos Anjos seja a Cecilia aquela Meireles ou aquele outro Chagas o Walmor todos os fazem arte o fazem com muito prazer e muito amor.
Pois é Armando, O Ferreira Gullar dizia que “a arte existe porque a existência não basta”.