GalindoLuma lança “Relatos de Viagens”; leia o prefácio

Livro é uma coletânea de crônicas que mergulha nos encantamentos e apuros vivenciados pelo autor ao longo de suas viagens por diferentes países

O cronista GalindoLuma (Geraldo Galindo), presidente do PCdoB-BA, lança nesta sexta-feira (1°/3), em Salvador, Relatos de Viagens – Deleites e Apuros de um Curioso do Mundo (Apparteditora). O livro é uma coletânea de crônicas que mergulha nos encantamentos e apuros vivenciados por ele ao longo de suas viagens por diferentes países.

Com esses relatos, o autor diz oferecer uma perspectiva cativante sobre suas experiências, revelando não apenas as belezas das paisagens – mas também experiências marcantes, política, riquezas culturais, encontros significativos e desafios enfrentados. “É uma celebração da diversidade, da descoberta e da alegria de conhecer e explorar o desconhecido”, afirma GalindoLuma.

Relatos de Viagens é a quarta obra de uma série do autor que também inclui Sacanagem É Coisa Séria (2012), Adultérios na Vida Como Ela É (2017) e Aventuras Sexuais e Reflexões de um Libertino (2021). O lançamento do novo livro será às 19 horas, no Escritório da Gadhega (Rua Góes Calmon, 33).

Confira abaixo o prefácio de Relatos de Viagens, escrito pelo professor Everaldo Augusto, mestre em Literatura Brasileira pela UFBA (Universidade Federal da Bahia).

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PREFÁCIO

Um viajante inusitado

Por Everaldo Augusto

Como todo bom mineiro, GalindoLuma é um contador de histórias e, como poucos, ele escreve seu texto como manuseia uma boa conversa numa mesa de bar ou num banco de varanda. Sem maiores pretensões, e sem que o interlocutor perceba, ele vai desnudando os véus que cobrem o desconhecido ou que naturalizam os tabus e preconceitos. Tudo isso de forma leve, elucidativa, sem ser professoral, despertando risos de sustos ou de contentamento.

Se o tema for relato de viagens, aí então o leitor que se prepare para perder, ou ganhar, horas até esgotar a última linha. É que a escrita de GalindoLuma puxa o fio da meada de um gênero literário que acompanha o homem desde que o mundo é mundo, ou pelo menos desde que o homem descobriu a escrita e ela ganhou o status de literatura.

É certo que os grandes relatos de viajantes tinham por objetivo descobrir o desconhecido e informar aos demais que existiam outros mundos, outras gentes, outras fés que nos afrontavam ou seduziam pelo que tinham de diferente, tanto quanto diferentes também eram aqueles viajantes para os povos e as terras visitadas.

Saber trazer estas sensações e estes olhares sobre o outro para o terreno da literatura é a arte dos narradores, cujas obras nos encantam e nos ensinam através de séculos. Quem duvidar que vá revisitar as obras de Marcos Polo, Júlio Verne e todos os viajantes a partir do século XV em diante, incluindo aí Camões, Charles Darwin, Tocqueville, Pero Vaz de Caminha e sua carta, Spix e Martius, estes últimos mais pertos de nós. Pode-se dizer também que, pela generosidade deste gênero literário em aceitar de bom grado o relacionamento com a ficção, grandes obras da literatura são exemplares relatos de viagem, como Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, Os Sertões, de Euclides da Cunha, Grande Sertão, Veredas, de Guimarães Rosa, ou ainda grandes autores de ficção que escreveram relatos de viagem, como Graciliano Ramos, A Viagem, e Jorge Amado, Viagem ao Mundo da Paz. Vamos ficar por aqui, porque a lista é grande.

Mas GalindoLuma não é um viajante dos tempos das viagens dos apóstolos de Cristo ou da época das grandes navegações, nem tampouco do século XIX. Então que viagens ele faz? Que ele nos conta?

Antes de falar das viagens propriamente ditas, é preciso situar o leitor acerca do viajante. Ele não é um curioso ingênuo que resolveu sair pelo mundo cometendo estripulias, tampouco é um turista convencional de pacote de viagem, com guias e programas previamente definidos. Não que isto seja ruim, mas não se trata disso. Sua visão sobre o outro e sobre o mundo é marcada pelo olhar crítico acerca dos processos políticos e econômicos hegemônicos e sua atitude diante do diferente é, em primeiro lugar, de respeito, convivência e depois, só depois, de formulação de opinião crítica.

Diante de um viajante desta natureza, é preciso considerar que, se antes as fronteiras da globalização eram bem limitadas e o novo batia à porta bastava o homem entrar numa nau ou embrenhar-se numa floresta sertão adentro, hoje a globalização de fato globaliza o mundo pelo bem ou pela internet, num processo contínuo de quebra de fronteiras de todos os tipos e de uma padronização dilacerante, no qual o sistema predatório e consumista vai célere silenciando culturas e impondo padrões de vida a gosto do mercado.

É neste mundo que GalindoLuma viaja.

Dito isto, resta se deliciar com as histórias de viagem de GalindoLuma e se certificar que, ainda que o mundo esteja globalizado pelo mercado, que as culturas locais estejam sendo silenciadas, que o processo de apropriação cultural dos povos esteja em curso, continuamos diferentes, ainda que sejamos iguais na nossa natureza de ser homem.  É neste mundo que somos diferentes e iguais ao mesmo tempo que a diversidade existe, é real e se impõe sobre os preconceitos e discriminações produzidos social e historicamente por esta era de incertezas, fluidez e desigualdades.

A maestria e arte da narrativa de GalindoLuma estão em descobrir neste emaranhado de mundos o inusitado, como numa confusão envolvendo ostras cruas num pub de Dublin, num surreal diálogo com um bêbado num bar de Hong Kong, numa detenção durante uma Fan-Fest em Casablanca – relaxada em troca de um vídeo pornô -, numa briga feia com um monge na Tailândia, num sopão para indigentes em Londres, numa massagem erótica em Saigon, num divertido encontro com alunos de Olavo de Carvalho dentro de um avião na Europa,  e muito mais.

E assim vai GalindoLuma e suas viagens e “viagens”. Então, viajem.

Boa leitura.

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