Ana Bueno: Poemas sob – e sobre – a quarentena

Leia dois poemas inéditos compostos durante a quarentena imposta pela pandemia do coronavírus

O Prosa, Poesia e Arte apresenta dois poemas inéditos de Ana Bueno, compostos sob – e sobre – a quarentena imposta pela pandemia do coronavírus. Geógrafa e jornalista, mestre em Mobilidade e Estudos Urbanos pela Universidade de São Paulo (USP), Ana integrou a equipe da revista Princípios e é a idealizadora do projeto “Crônicas das Cidades”. Um poema de sua autoria, 80 Tiros, integra a antologia 80 Balas, 80 Poemas (Selo Demônio Negro, 2020).

*

DEPOIS DA MORTE

Depois da morte…
teu filho não lhe trará mais sorte
nem pra humanidade haverá um Norte.

Não haverá talvez 
nem se, nem porquês, nem revés.

Não haverá amor,
porém, dor
pra quem não for.
Essa, sim, haverá. 

Depois da vida
não há ainda quem diga 
como se é vivida
a não vida depois da morte. 

Depois da morte 
não importa humildade 
nem idade
nem imunidade
tampouco ensinar humanidade 
à humanidade.

Depois da morte 
ninguém vê o arrependimento sentido
por aquele conceito invertido 
de quem ainda a cegueira 
segue na esteira,
sem enxergar 
que é pra parar
pra só depois caminhar.

[Depois da morte
não há depois aqui]

Não há lágrimas ali
que não se possam sentir daqui
porque a morte 
e o vírus
não escolhem bem 
e nem olham a quem…
chega a ti, 
chega a mim. 
[Quem sabe?]

E qual o seu legado,
pra depois da morte?
Serão os maldizeres,
de ódio ao infeliz 
que não é forte 
porque não pode.
Não tem feijão no prato,
nem sabonete na mão,
tampouco fino trato 
e assim, segue sem opção.

Legado de quem teve berço 
e pode dar esse berço aos seus?
Legado de herança 
a quem não vê a desesperança 
de parte da sociedade 
sem imunidade.

Pra depois da morte não se dá jeito nem com luta e peito!

*

SINCERIDADE

Não tema as palavras
elas devem ser ditas
não sobreditas por razões
apenas ditas

Os dizeres têm hora
Nem toda hora é pra dizer
nem maldizer

Não guarde as palavras toda hora
Use as boas palavras
expresse-as com empatia

Simpatia não se escolhe ter
Empatia nasce em ser
mais humano, mais amável

Amável é quem ama,
ama a si
ama a ti
ama a vida

Viver só de verdade
sempre com lealdade
e sinceridade
(principalmente aos seus)

Sinceridade pra quê?
Sinceridade pra quem?
Só vale aos que te ouvem
e aos que te querem bem

Sinceridade é a verdade
Tempo passa tempo, passa gente
e num dia à humanidade vem a verdade expressamente.

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