Festival Com Lula Livre leva cultura e resistência ao povo do Recife
Cerca de 200 mil pessoas lotaram domingo (17) o Pátio do Carmo, no Recife, para participar do Festival Lula Livre, que terminou se transformando no Festival Com Lula Livre. Dezenas de artistas fizeram questão de participar da atividade, numa grande festa que teve cara de esperança renovada.
Publicado 19/11/2019 13:27 | Editado 04/03/2020 16:55
Desde antes do meio-dia, vestidas de vermelho, com adereços carnavalescos, placas e faixas, pessoas chegavam de todos os cantos de Pernambuco. Alguns vinham de outros estados. Sob um sol de rachar, procuravam se posicionar o mais perto possível da grade que separava a plateia da área reservada à imprensa e aos artistas, beirando o palco.
No Armazém do Campo, mercadinho orgânico mantido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a poucos quilômetros dali, a tradicional agremiação Eu Acho É Pouco dava início a um carnaval fora de época, que coloriu as ruas do centro, num arrastão do frevo, pró-democracia. Quando o cortejo chegou ao local do festival, a praça já estava tomada por uma multidão. Assista ao vídeo abaixo.
No palco, a cultura brasileira mostrava sua diversidade, riqueza e resistência. Não era preciso discurso para que ato fosse politizado. Mas, entre um show e o outro, o povo pedia a presença de Lula, atração principal do festival. Por volta das 19h, ele entrou, cercado de simbolismo. De mãos dadas com Lia de Itamaracá, rainha da ciranda, gigante da cultura popular. Mulher, negra, periférica.
Coisa de comunista
“Cultura pra eles é coisa de comunista. Mas cultura pra gente é libertação. É educação e conhecimento. Um país sem cultura e educação não vai a lugar nenhum”, disse o ex-presidente. Ele agradeceu todo o apoio que recebeu durante os 580 dias em que esteve preso em Curitiba e referiu-se especialmente aos artistas ali presentes. “Agradeço a cada mulher e cada homem que teve a coragem de cantar por liberdade nesse país”.
Natural do município de Garanhuns, em Pernambuco, Lula exaltou a região em sua fala. "Esse povo do Nordeste aprendeu a comer três vezes ao dia, a ter água, a ter emprego. O Nordeste é exportador de dignidade. Queremos ser tratados em igualdade de condições. Não somos párias da sociedade”, afirmou.
Lula com o cantor Siba e mestres do maracatu com a bandeira de Pernambuco. Foto: Diego Galba/VG
O ex-presidente também voltou a defender sua inocência. “É importante dizer que nossa luta continua. Agora, a campanha ‘Lula Livre’ tem que se transformar em uma campanha muito maior, porque o que nós queremos é a anulação da safadeza dos processos contra nós”, discursou, saudado aos gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.
Lula prometeu ainda seguir lutando pelo país. “Ninguém fará com que eu pare de lutar, para garantir que os nossos filhos vivam uma vida melhor do que a nossa”.
Soberania e direitos sociais
E apontou a necessidade de defender a soberania e as conquistas sociais do país. “Eles estão destruindo o país em nome do quê? Estão destruindo os empregos em nome do quê? Estão alimentando o ódio em nome do quê?”, questionou, defendendo os avanços promovidos por seu governo.
Tecendo críticas ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, ao procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, Jair Bolsonaro e à Rede Globo, disse “que trabalham para destruir a esperança no país, ao alimentar o ódio e as milícias”.
"Eles estão destruindo o país em nome do quê?" questiona Lula. Foto: Diego Galba/VG
Cercado de artistas, o ex-presidente chamou ao palco o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que o substituiu na disputa presidencial do ano passado, e sua nova namorada, socióloga Rosângela da Silva, a Janja.
Ao encerrar sua fala, convocou ao palco Siba e um grupo de mestres de maracatus, que entoaram loas à democracia e ao ex-presidente. "Na hora que eu largar esse microfone, o show vai continuar, porque na democracia, o show não para. Nós não vendemos ódio, nós vendemos amor, paixão", concluiu o ex-presidente, enquanto a multidão cantava “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”.
Amplitude e unidade
Mais cedo, ao desembarcar na capital pernambucana, o ex-presidente foi recebido, no Hotel Atlante Plaza, pela governadora em exercício, Luciana Santos, e por lideranças de diversos partidos e movimentos sociais do Estado. Entre os presentes, estavam os dirigentes do PCdoB, Marcelino Granja, Alanir Cardoso, José Bertotti, Renildo Calheiros e João Paulo; os deputados João Campos, Waldemar Borges, Doriel Barros; e o presidente do PSB, Sileno Guedes.
Lula, Renildo Calheiros e Luciana Santos em tarde de festa e democracia. Foto: Diego Galba/VG
“Essa tarde foi um momento de encontro de muitos militantes que há anos se conhecem. Foi um resgate de momentos, de história, de luta e alegria. Muitas forças políticas, de diferentes correntes, todos confraternizando, partilhando com Lula esse momento da conquista da liberdade dele, com a certeza de que ele está com muita disposição de ir à luta, provar sua inocência. Nós estamos, portanto, com a certeza de que esse espírito que move Lula hoje é um espírito de resistência, de fazer um bom combate contra essa agenda antinacional e antipovo comandada por Bolsonaro”, declarou Luciana.
Da Redação do Vermelho, no Recife