Discurso de Temer na ONU tentou esconder o golpe
Michel Temer discursou na abertura da 71ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nesta terça-feira (20). Ocupando ilegitimamente o cargo de presidente, Temer foi o primeiro a discursar entre os chefes de Estado na assembleia da ONU, porque é uma tradição o presidente brasileiro abrir a reunião.
Publicado 20/09/2016 12:13
Ao chegar ao hotel onde está hospedado em Nova York, Temer foi recebido com protestos. Manifestantes o recepcionaram em frente ao hotel com cartazes de “Fora, Temer” e gritos de “golpista!”.
No discurso, Temer disse que o país enfrenta uma crise, mas vive em profundo “vigor democrático”. Ele tentou justificar o golpe como um processo “depuração” e que o país tem todas as suas instituições em pleno funcionamento e que “cumprem seu dever”.
Apesar do processo contra a presidenta Dilma ser mundialmente conhecido por condenar e afastar uma presidenta legitimamente eleita sem que ela tenha cometido crime e que durou três meses, Temer subiu à tribuna para dizer que foi um processo “longo e complexo” e que sua legitimidade está na formalidade de ter sido conduzido pelo Congresso Nacional e pelo Supremo Tribunal Federal, que delimitou o rito.
“Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional”, discursou Temer.
Não foi só isso. Mesmo com a imprensa internacional apontando que no país a grande mídia apoiou o golpe contra a democracia, Temer disse que uma demonstração de que tudo estava bem no Brasil era o “olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre”.
Temer também quis dar aula de diplomacia. Desde que assumiu interinamente e colocou no Ministério das Relações Exteriores o senador tucano José Serra (PSDB-SP), as relações bilaterais com os países da América Latina foram implodidas. Uma crise se instaurou no Mercosul, bloco comercial da região, e a tradição de país conciliador deu lugar a uma política de submissão aos Estados Unidos e de menosprezo e divisão para com a América Latina.
Mas ao discursar na ONU, disse que pretende transformar o mundo pela diplomacia. “Temos de nos unir para transformá-lo. Transformá-lo pela diplomacia – uma diplomacia equilibrada, mas firme. Sóbria, mas determinada. Uma diplomacia com pés no chão, mas com sede de mudança. É assim que o Brasil atua, na nossa região e além dela. Um país que persegue seus interesses sem abrir mão de seus princípios”, declarou.
Enquanto reprime com o aparato policial os atos e manifestações pelo “Fora Temer”, o ilegítimo disse na tribuna da assembleia da ONU que está preocupado com “perseguições, prisões políticas e outras arbitrariedades ainda recorrentes em muitos quadrantes”.
“Nosso olhar deve voltar-se, também, para as minorias e outros segmentos mais vulneráveis de nossas sociedades”, disse ele, que surfou nos avanços sociais garantidos pelos governos de Lula e Dilma. “É o que temos feito no Brasil, com programas de transferência de renda e de acesso à habitação e à educação, inclusive por meio do financiamento a estudantes de famílias pobres. Ou com a defesa da igualdade de gênero, prevista na nossa Constituição. Cumpre garantir o direito de todos”, declarou Temer, escancarando as contradições entre seu governo e a realidade.
As contradições do discurso de Temer com a realidade de seu governo foram gritantes. Na segunda-feira (19), ao discursar em uma reunião da ONU, Temer abordou a crise de refugiados e ao mencionar os números do Brasil, aproveitou para dar uma insuflada.
Disse que o país havia recebido 95 mil refugiados. Mas dados do próprio governo apontam que, até abril deste ano, havia 8.863 refugiados, conforme balanço do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), órgão ligado ao Ministério da Justiça responsável por analisar os pedidos e declarar o reconhecimento da condição de refugiado no país. Vale lembrar que a afirmação de Temer foi dada ao lado do seu ministro da Justiça, o tucano Alexandre de Morais.