Bolsonaro e a perversa decisão de extinguir o auxílio emergencial
A pesquisa Datafolha revelando que o auxílio emergencial é a única renda de 36% dos que receberam o benefício suscita […]
Publicado 21/12/2020 22:12
A pesquisa Datafolha revelando que o auxílio emergencial é a única renda de 36% dos que receberam o benefício suscita várias questões. O dado se soma ao fato de que a redução do valor de R$ 600 para R$ 300 levou 75% dos beneficiários a diminuir compra de alimentos. Com essa diminuição, a renda de cerca de 7 milhões de pessoas caiu abaixo do nível de pobreza, de acordo com um estudo do pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), Vinícius Botelho.
Sua previsão é de que esse número deve subir para quase 17 milhões após a extinção do benefício, no início de 2021. O número chega em 24 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza pela previsão de Kristalina Georgieva, diretora Fundo Monetário Internacional (do FMI). O fim do auxílio emergencial também dificultará a recuperação econômica, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Essa decisão acontece quando a Covid-19 tem um repique, com forte crescimento de mortes e novos infectados, e, também, sem que exista postos de trabalho para absorver os milhões que ficarão à míngua, sem renda alguma.
A indiferença do governo Bolsonaro diante dessa realidade é um dos componentes do sentido irresponsável da política econômica do seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes. É a ideia de que quem nasce na base da pirâmide social deve suportar passivamente todas as mazelas que lhe são impostas. É como se essas pessoas tivessem um assento na sociedade reservado para quem nasceu na extrema pobreza e está condenado a viver assim indefinidamente.
Com o agravante de que já existem levas de desempregados que perambulam pelas ruas sem perspectivas, muitos se sacrificando na busca do “pão de cada dia”, como determinou Bolsonaro. São as vítimas da lógica ultraliberal de que muitos precisam submergir na pobreza e na miséria para que o governo possa “salvar a economia”, um conceito que não frequenta os lares onde faltam do pão ao arroz e o feijão. Para estes, a salvação da economia passa longe.
Ninguém, fora os portadores dessa ideia socialmente perversa, discute a importância do auxílio emergencial nesse momento. Não apenas porque é desumano ver uma parcela significativa de pessoas sem ter o que comer, mas também porque ele contribui muito para a dinâmica da economia. O direito de consumir o básico deve ser extensivo a todos. A ideia de salvação da economia por Bolsonaro e Guedes pode ser traduzida pela fórmula de dar a poucos o acesso aos padrões de vida de Primeiro Mundo e a muitos a pesada cota de sacrifício necessária para a sua realização.