Acordos elevam relação Brasil-China a novo patamar
Lula destaca que construiu com Xi Jinping a perspectiva de cooperação sino-brasileira para os próximos 50 anos, em áreas como infraestrutura sustentável, transição energética, inteligência artificial, economia digital, saúde e aeroespacial
Publicado 21/11/2024 10:15 | Editado 21/11/2024 14:08
Depois da exitosa Cúpula do G20, quando se encerrou a presidência do grupo pelo Brasil, os presidentes brasileiro e chinês, Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping assinaram, na quarta-feira (20), em Brasília, no Palácio da Alvorada, trinta e sete acordos de cooperação em temas como agronegócio, intercâmbio educacional, cooperação tecnológica e investimentos em diversas áreas, abrangendo comércio, agricultura, indústria, investimentos, ciência e tecnologia, comunicações, saúde, energia, cultura, educação e turismo.
A visita de Estado do presidente chinês, a mais importante do atual mandato do presidente Lula, foi preparada há meses, com status de grande importância pelos governos dos dois países.
De acordo com o presidente Lula, apoiado por Xi Jinping, os acordos fortalecem a parceria estratégica entre as nações, na defesa da reforma da governança global e em prol de um sistema internacional mais democrático, equitativo e ambientalmente sustentável. Os dois maiores países em desenvolvimento, conforme definição do presidente chinês, com peso estratégico no cenário global, elevaram a um novo patamar a Parceria Estratégica Global, estabelecida em 2012 que fora, por sua vez, um passo adiante à Parceria Estratégica de 1993, agora com o status de Comunidade de Futuro Compartilhado por um Mundo mais Justo e um Planeta Sustentável.
Os dois chefes de Estado reafirmaram também os laços de parceria oficial de cinquenta anos, com atuações conjuntas em organismos internacionais, como Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial do Comércio (OMC) e em grupos como G20 e BRICS, em um contexto de ameaças do presidente de extrema-direita eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor barreiras para importações, com taxa elevadíssima sobre produtos da China, além de ameaças de criar instabilidade econômicas e políticas, o que poderá conturbar ainda mais o cenário internacional.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil há quinze anos. Em 2023, o comércio entre os dois países bateu o recorde de US$ 157,5 bilhões, segundo o Ministério das Relações Exteriores. De janeiro a outubro de 2024, o intercâmbio entre os países foi de US$ 136,3 bilhões. As exportações brasileiras alcançaram US$ 83,4 bilhões e as importações, US$ 52,9 bilhões, um superávit de US$ 30,4 bilhões. Os principais produtos exportados para a China são soja, milho, açúcar, carne bovina, carne de frango, celulose, algodão e carne suína in natura.
O presidente Lula valorizou com ênfase o significado positivo para o Brasil das relações com a China. Frisou que “o superávit com a China é responsável por mais da metade do saldo comercial global brasileiro” e que o gigante asiático “figura como uma das principais origens de investimentos Brasil”. Ao mesmo tempo, destacou o presidente Lula, “o agronegócio continua a garantir a segurança alimentar chinesa”. “O Brasil é, desde 2017, o maior fornecedor de alimentos para a China.”
Tendo como diretriz os interesses do desenvolvimento soberano brasileiro, o presidente Lula destacou que construiu com o presidente Xi Jinping a perspectiva conjunta de cooperação sino-brasileira para os próximos cinquenta anos, abrangendo áreas como infraestrutura sustentável, transição energética, inteligência artificial, economia digital, saúde e aeroespacial.
Concretamente, esta diretriz requer, disse o presidente Lula, “estabeleceremos sinergias entre as estratégias brasileiras de desenvolvimento, como a Nova Indústria Brasil (NIB), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Programa Rotas da Integração Sul-Americana, o Plano de Transformação Ecológica e a Iniciativa Cinturão e Rota.”
O presidente Xi Jinping salientou que fez uma retrospectiva com o presidente Lula do relacionamento da China com o Brasil e que “coincidimos que este relacionamento está no melhor momento da história”. “Possui uma projeção global estratégica e de longo prazo cada vez mais destacada. E estabeleceu um exemplo para avançarem juntos.”
Ele valorizou as convergências entre Brasil e China acerca de temas estratégicos da atualidade, entre elas, a necessidade de se realizar reformas na governança global, bem como esforço conjunto para se buscar soluções em prol da paz no conflito entre Rússia e Ucrânia e por imediato cessar-fogo em Gaza.
A política externa chinesa, que inclui um mega investimento de um trilhão de dólares na Iniciativa Cinturão e Rota, conhecida como a Nova Rota da Seda, tem sido de desenvolvimento pacífico, com a metodologia da cooperação ganha-ganha, como explicou Xi Jinping em recente artigo no jornal Folha de S. Paulo. Internamente, o país, com suas tradições e peculiaridades, desenvolve exitosamente o socialismo e já é a segunda potência econômica do mundo, com um modelo de desenvolvimento soberano alavancado em alta tecnologia e direcionado a elevar crescentemente os direitos e a qualidade de vida do povo.
Diante de um cenário internacional severamente marcado por crises, desigualdades, instabilidade e guerras, o presidente chinês expressou a convicção de que “China e Brasil devem assumir proativamente a grande responsabilidade histórica de salvaguardar os interesses comuns dos países do Sul Global e de promover uma ordem internacional mais justa e equitativa”.
De conjunto, o presidente Lula, aquilatando o potencial de força de uma relação cooperativa e estratégica entre as duas grandes nações, sintetizou: “O que China e Brasil fazem juntos, reverbera no mundo.”
O presidente Lula, apesar das pressões da maioria das classes dominantes locais para subordinar o Brasil aos interesses do imperialismo estadunidense em detrimento do desenvolvimento soberano brasileiro, corretamente eleva o status da parceria com a República Popular da China. Decisão que se apresenta necessária e benéfica ao nosso país e ganha mais importância pelas adversidades que se anunciam com o governo Trump. Sem que este movimento resulte em estreitamento das relações externas do Brasil com outras potências e blocos econômicos.