As indicações de Meirelles e Goldfajn, e especialmente as controvérsias iniciais sobre a CPMF (Skaf e Paulo Pereira, de imediato contrários), pareciam – só pareciam – sinais contraditórios sobre as políticas cambial e monetária. As nomeações – por um núcleo de governo provisório recheado de reacionários e corruptos – para a equipe econômica apontam a clara hegemonia no interino governo Temer do grande capital financeiro (local e forâneo).
Pensa o economista francês Patrick Artus que as políticas ultra expansionistas da liquidez (QE,“quantitave easing”), tocadas pelo Banco da Inglaterra, pelo Fed americano, o Banco do Japão e o BCE europeu, levaram o sistema capitalista pós crise 2007-8, a um estado de crise financeira permanente na economia mundial.[1]
No já indispensável “Flores, votos e balas” (Companhia das Letras, 2015), Angela Alonso nos convence que André Rebouças, Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, cada qual a seu modo, iludiram-se fartamente com a possibilidade de uma agenda reformista dum “Terceiro Reinado”, no torvelinho do pós-Abolição. Ademais desses três grandes revolucionários brasileiros restarem aprisionados pelo monarquismo.
“Mas o que deve fazer então um general cercado por forças superiores? (…) Numa situação extraordinária, é necessária uma resolução extraordinária; quanto mais perseverante for a resistência, maiores serão as chances de ser socorrido ou abrir uma brecha” (Napoleão cita Horácio). [1]
Conforme análise acurada do economista marxista britânico Michael Roberts, a situação da economia global pode ser assim resumida: (i) novo impulso especulativo nas bolsas de valores, ao lado do crédito farto e barato; (ii) preços baixos da energia (petróleo);(iii) aumento do endividamento empresarial privado; (iv) desaceleração do crescimento econômico e queda dos investimentos e lucros. “Alguma coisa tem que acabar explodindo”, assevera ele.
O 31 de março Brasil a fora parece simbolizar ou convergir numa inflexão contra a marcha golpista instalada no país. Foi uma inesperada pancada na direita neoliberal e seus aliados. Um posicionamento claro, inclusive de repercussão internacional importante.
No horizonte do capitalismo de transfiguração neoliberal – assentado no estágio imperialista dos nossos dias – vê-se perigoso aprofundamento da desaceleração com nova recessão (na estagnação!) sendo muito provável. Sim, num capitalismo já “respirando por aparelhos”, espécie de morto-vivo. E a espalhar miasmas terríveis por toda a parte
“A situação está pior do que em 2007. Nossa munição macroeconômica para combater desacelerações (dowturns) no essencial já foi toda gasta” (William White, presidente da comissão de revisão da OCDE e ex-economista-chefe do Banco de Compensações Internacionais –BIS). [1]
“O problema crucial dos países subdesenvolvidos é o aumento considerável do investimento, não a fim de gerar uma demanda efetiva – como é o caso numa economia desenvolvida mas com subemprego –, mas para acelerar a expansão da capacidade produtiva indispensável para o rápido crescimento da renda nacional” (Kalecki, 1983).
Em última instância, encontra-se no centro do tabuleiro o projeto de liquidação do Brasil enquanto nação, na atual quadra histórica. É exatamente disto que trata a marcha golpista camuflada na tentativa do impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Passou-se a exigir-se a derrota de correntes políticas avançadas ou de caráter democrático-popular impulsionadoras da reconstrução desenvolvimentista, soberana e provedora de amplas melhorias sociais às massas populares.
“O mercado monetário é sempre, por assim dizer, o quartel general do sistema capitalista” (Schumpeter) [1].