Voltei Recife

Explorando culturas e debatendo política: uma jornada pessoal de descanso em Paris à atualização sobre os desafios e avanços no Brasil.

Centro de Recife, PE | Foto: iStock

Precisávamos. Dezessete dias de descanso. Fui para Paris onde meu filho e sua companheira estão passando uma temporada de estudos.

Museus, Pompidou, Louvre, Petit Palais, um fantástico de antropologia e etnografia, um instigante de cartas e baralhos. Giverny e os impressionistas. Pós impressionistas que não conhecia e gostei. Passeios tradicionais e o descobrir do triângulo chinês da cidade. Restaurantes franceses, coreano, cambogeano, indiano. Crepes, muito vinho, cervejas e a imperdível cachaça de maçã, calvado. Andar de barco e dançar na beira do Sena. O espaço 104 e a miríade de artes e expressões. Um karaokê animado em bar árabe. Tudo que tínhamos direito fizemos.

Não sei se foi a saudade que me trouxe pelo braço, mas Recife é minha referência, onde piso seguro. Mercearia de seu Arthur, Dona Fava, mercado de casa Amarela, feirinha do Sítio da Trindade. Amigos e discordantes, bons papos, bons debates. Aqui consigo me encontrar. Saber o quê e para quem falar. Bom saber que sempre me acolherá.

Preciso me atualizar. De longe via as manchetes, mas muito superficialmente.

Um jornal reacionário e muito conservador. É o que tenho para repassar os dias. De madrugada, com visão crítica, dada a posição ideológica da referência, vou passando o tempo e vendo o que é debate atual.

Rio Grande do Sul, uma tristeza, uma grande tragédia. O homem não se apercebe que tem que ser precavido, que a natureza reage com fúria a suas insanas atitudes. Capitalismo e a especulação imobiliária. Legisladores que afrouxam as normas para atender a interesses específicos. A volta em intempéries é esperada. Muita solidariedade, muita mobilização para ajudar os desamparados, um país que mostra empatia.

Na economia há avanços. O periódico diz que foram derrotas, vejo como grandes vitórias. Vivemos num regime democrático em que necessariamente se tem que negociar, conceder, mas sem perder o foco.

Desoneração que atende a interesses específicos. Os estudos sérios mostram que o emprego setorial reage muito mais a crises e momentos de forte demanda do que a incentivos fiscais para os setores. Não há sentido econômico em manter um privilégio indefinidamente. Conseguiu-se um escalonamento. Em quatro anos acaba e volta-se a um regime tributário igualitário aos demais setores.

A cultura e o lazer sofreram muito na pandemia. Precisavam de um programa para se reerguer. Muitos se aproveitaram de brechas para tirar proveito. O custo para a nação ficou exagerado. Chega-se a um acordo, impõem-se limites, regras que tornam viável o programa.

As famigeradas emendas parlamentares. O executivo abriu mão de suas funções por quatro ou cinco anos. Valores bilionários. Pouco a pouco se procura retomar a normalidade. Mas não é fácil. A cobiça dos tribunos impede que seja automático. Consegue-se salvar dois bilhões de reais o que não é pouco. E se aponta para um futuro mais justo em que executar e legislar voltarão a ter agentes públicos que têm essas missões específicas mais definidas.

A Balança Comercial com excelentes novidades. Batendo recordes a cada mês. As exportações de manufaturados aumentam. É verdade que ainda de baixa tecnificação, ainda muito assentadas em produtos alimentícios e de derivados de petróleo. Mas, se consolidarmos uma política industrial sólida, temos condições de melhor nos inserirmos, criando empregos de qualidade.

Nem tudo foram avanços. Auditores, fiscais, membros do judiciário conseguem benefícios muito além das possibilidades do aumento de produtividade e arrecadação. Têm poder de barganha, têm poder de pressão. Até uma lei, a dos qüinqüênios, tramitando no Senado, para o Judiciário e muitos agregados, que pode desestabilizar de vez as finanças públicas.

Enquanto isso, o restante do funcionalismo pública, incluindo as universidades, paralisados por reivindicarem míseras correções de distorções históricas de tempos em que foram totalmente esquecidos. Promessas há de contra propostas, mas, até agora, pouco se avançou.

Fiquemos por aqui. Detalhes outros, há vários. A volta tem que se dar a seu ritmo, retomando os estudos, as leituras e as práticas de caminhadas e Yoga. Sem esquecer-se, claro, de tomar umas e outras e cair no passo.

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