Unidade em defesa da soberania nacional e do Estado Democrático
Os setores progressistas que infelizmente não conseguiram uma unidade no processo eleitoral, devem agora largar de disputa partidárias menores para construir a unidade nacional, necessária para barrar a agenda ultraliberal e entreguista de Jair Bolsonaro, começando pela Reforma da Previdência.
Publicado 13/05/2019 15:56
Deve-se buscar os laços e as pautas que unem, os valores que definem o campo político progressista, democrático e popular. Propor uma agenda de defesa dos direitos sociais, civis e políticos, bem como a proteção do patrimônio público e da soberania nacional, frente aos ataques e anseios do Governo.
De nada adianta querer saber de quem é a responsabilidade pela eleição de Bolsonaro. Especular, teorizar se o resultado eleitoral teria sido diferente, caso não fosse o PT para o segundo turno, ou querer culpar o Partido dos Trabalhadores pelo revés nas urnas.
A correlação de forças não favorecia o campo progressista desde o final do primeiro mandato da Presidenta Dilma, e a situação foi se agravando conforme o avanço de setores neofascistas da sociedade sobre as instituições.
Quem implodiu o sistema político e deu espaço para ascensão da extrema direita não foi o PT, foi o conluio entre a grande mídia, judiciário (lava-jato), e partidos golpistas. Deram o golpe, sim golpe (ou existe alguém na esquerda que não enxergue isso?). Assaltaram o poder para implementar uma agenda que não passou nas urnas em 2014 e foi imposta em 2018 mediante o diversionismo eleitoral.
Não é justificando a derrota, porém aceitar a tese de que o Brasil vive uma normalidade democrática diante do golpe de 2016 e da prisão política da maior liderança da esquerda, é no mínimo ingenuidade, é aceitar e legitimar essa democracia capenga e incompleta.
É certo de que a democracia liberal burguesa fez concessões para a participação política dos trabalhadores, ao ponto de um partido com origem fincada no sindicalismo chegar ao centro do poder, é certo também que as amarras do Estado burguês impediram a classe trabalhadora, ao querer fazer a disputa por essa via, uma maior transformação do próprio Estado e das relações econômicas.
O que se conseguiu avançar ao caminho de uma sociedade mais inclusiva e menos desigual, e na construção de uma soberania nacional, deve ser o centro de gravidade da luta política em oposição ao Governo. As forças políticas que ascenderam ao poder vieram para destruir a regulação do mercado, as políticas sociais e os direitos do povo, vender o patrimônio público e entregar a soberania e o controle de nossas riquezas para o capital internacional.
O Governo começa a rodar o moinho ultraliberal, os trabalhadores sentirão os efeitos de um Governo feito para os ricos, a indústria nacional definhará com uma economia cada vez mais financista e submissa ao capital financeiro especulativo, refém da exportação de matérias-primas.
As contradições no condomínio do poder abrem fissuras para a atuação da oposição, que deve estar na trincheira democrática para recuperar o debate público econômico sequestrado pelo debate moral. Saber dialogar com os mais amplos setores da sociedade, desde a burguesia nacional industrial até os movimentos sociais, passando por uma ampla aliança política.
As bravatas, mentiras e desinformações de Bolsonaro e sua turma, não se sustentam para sempre, prova disso é a queda vertiginosa da sua aprovação na opinião pública. A agenda ultraliberal de Bolsonaro só conseguiria ser implementada na sua totalidade de duas maneiras, corrupção desmedida na compra do parlamento, ou autoritarismo ditatorial. Parece que a segunda opção é mais admirada pelo Presidente que não consegue nem mesmo um diálogo com o Congresso Nacional.
Cabe não só ao campo progressista, bem como todas as forças políticas comprometidas com a democracia barrarem qualquer flerte autoritário do Governo Bolsonaro. A coalizão política que pode se formar em defesa do Estado de Direito e da Constituição, também passa por uma defesa da democracia. O avanço neofascista é real, não é pegadinha, e quem desacreditar será engolido rapidamente.
No livro "Como as Democracias Morrem" os cientistas políticos de Havard, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, argumentam que o fim das democracias liberais não se dá mais de maneira clássica com Golpes de Estado, fechamento do Congresso e tanques nas ruas, mas sim por um ataque sutil e sistemático contra as instituições partindo de dentro, quando estas estão nas mãos de demagogos autocratas.
A defesa das instituições é necessária para o funcionamento da democracia, para a garantia de sobrevivência política visando não retroceder nos avanços sociais, nos direitos conquistados, e no respeito integral a Constituição de 1988, reafirmando assim o pacto político-social após o período da Ditadura Militar que fundou as bases da nossa jovem experiência democrática atual.