Transformações recentes na agricultura chinesa

Estou em plena fase de finalização e redação de minha tese de doutorado. Dentre outros assuntos a serem trabalhados, a agricultura guarda especial atenção. Segue abaixo algo curto, mas suficiente para lançar luzes sobre a discussão.

Um golpe duro na agricultura chinesa. Era isso o que muitos apostavam quando uma das condicionalidades da entrada da China na OMC, em 2001, incluía uma queda na taxas de importações de gêneros alimentícios pelo país asiático, de outrora 30% para os vigentes 15%. Esse tipo de previsão teve o mesmo destino de muitas outras, que a despeito de não incluir variáveis puramente históricas e políticas, insistiam em apontar tendências sóbrias ao gigante asiático.

A Revolução Chinesa de 1949 foi produto de grandes rebeliões camponesas que se sucedem há cerca de 2.500 anos. As reformas econômicas de 1978 visaram, sobretudo, a inversão de um processo de industrialização ?soviética? caracterizada por relações desfavoráveis ao campo em detrimento das cidades, por outra que privilegiou ao mesmo tempo em que buscava maximizar a milenar capacidade empreendedora do camponês médio chinês, também apostou num crescente de consumo de massas, conforme as medidas pró-comércio rural encetaram. Nesse sentido, podemos vislumbrar o DNA do socialismo de mercado chinês como um mix entre uma superestrutura de poder popular para quem o desenvolvimento é o único meio plausível aos objetivos de cunho estratégico, o monopólio pelo Estado dos instrumentos cruciais do processo de acumulação (câmbio, crédito, juros e sistema financeiro), a propriedade estatal sobre os meios estratégicos de produção e o incentivo a propriedade privada como mola ancilar da base econômica.

Ao caso da agricultura, bom salientar que o processo recente de industrialização chinesa é muito baseada, também, num típico processo de ?industrialização rural? que tem nas chamadas Empresas de Cantão e Povoado (ECP`s) uma grande expressão, com capacidade de responder por mais 30% das exportações chinesas. Empresas tais exportadoras de produtos que vão desde camisas de seda até DVD`s e produtos com alto valor agregado.

Retornando, assim fica clara a percepção de como os chineses enfrentaram seus problemas puramente agrícolas. Desde a entrada do país na OMC, experimentos de sucesso foram levados a cabo, entre eles a redução a zero sobre os impostos agrícolas, a autorização do usufruto da terra para terceiros, viabilizando assim uma lenta transformação de algo baseado numa pequena produção mercantil, para propriedades maiores e com certa composição orgânica do capital. Além disso, incentiva-se a utilização de terras nas periferias de grandes cidades por migrantes com vistas a uma produção ao mercado de cidades como Pequim, Xangai e Shenzen.

O resultado disso pode ser auferido constatando que amiúde o país contar com apenas 5% das terras agricultáveis do mundo, em 2007 sua produção de cereais ultrapassou a casa dos 500 milhões de toneladas, em 2008 chegou a 511 milhões e a previsão para 2009 almeja a possibilidade de alta de até 10% com relação ao ano anterior. Por outro lado, é bom lembrar que o país além de ser um dos quatro maiores produtores de cereais do mundo, recentemente tem deslocados seus concorrentes de terceiros mercados, inclusive exportando hortaliças ao mercado norte-americano.

Enfim, em pelo menos mais este aspecto os chineses, independente das muitas contradições inerentes a quaisquer processos sociais, vem deixando claro que a história tende a dar razão para uma governança a altura de uma civilização de mais 5.000 anos e um Estado Nacional fundado há cerca de 2.500 anos. Aprendamos com a realidade que nos cerca…

EM TEMPO: Diariamente exponho algo sobre o andamento da redação de minha tese no twitter sob o seguinte endereço: http://twitter.com/eliasjabbour

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