Traficante na Bienal do Livro
Estava com esse artigo quase pronto quando vi pela TV o trágico vôo dos falcões do morro registrado no documentário de MV Bill e Celso Athayde. Não faço grandes alterações no texto, ao contrário, o documentário só
Publicado 24/03/2006 13:49
Ao sussurro:
– Hei!
– Eu?
– É mano Você! Chega ai… Ta com medo? Dá um ligo aqui.
– Orra! Bagulho doido! Deve custar uma nota…
– Intão esse vai custar nada não. O barato é seu.
Além de ser um bandido armado (link1) agora ando utilizando técnicas de traficante. Tipo, lançamos o Hip-Hop a Lápis e distribuímos o livro gratuitamente. A intenção foi viciar os manos e minas nesse barato que faz viajar chamado literatura.
“É como um vício, é mais que simples compromisso. Se viver é difícil seria muito mais difícil viver sem isso.” Gabriel o Pensador
Sérgio Vaz diz que muitas vezes os trabalhos que são desenvolvidos na periferia equivocadamente é justificados da seguinte forma: “É melhor o pessoal estar aqui, do que estar se drogando…”
Até parece que na favela só tem drogado!
“Batida pesada
O faz viajar…
Cocaína é pouco
O efeito aqui é outro
O RAP te deixa bem mais louco.” 509-E
A estratégia é justamente oposta: distribuímos a primeira tiragem do livro Hip-Hop a Lápis gratuitamente e agora, o livro foi relançado durante a 19º Bienal Internacional do livro e estará a venda nas livrarias e pelo site da editora Anita Garibaldi. Hoje ler e escrever hoje é vício de vários maluco.
“Conheça a ação desenvolvida pela Cooperifa. Somos mais que Dog-Dog, Dree e Latifah” GOG
Já havia dito em uma palestra que o que une a favela são as dificuldades. Um exemplo recente disso aconteceu a poucas semanas com a invasão do exército nos morros do Rio de Janeiro em busca de armamentos roubados. O que fez que Sérgio Vaz da zona sul de São Paulo escrever um texto que foi parar em jornais comunitários da Rocinha. As favelas tão se interligando…
“Enquanto eles capitalizam a realidade eu socializo meus sonhos” Sérgio Vaz
O próprio Poeta Vaz também teve lançando o livro a Poesia dos Deuses Inferiores na Bienal junto ao Alessandro Buzzo, no estande da FEBEM. Como o Hip-Hop a Lápis os outros dois autores também possuem páginas na internet onde disponibilizam textos gratuitamente (link2). Cuidado isso é armadilha para viciar e cada vez você querer ler mais. Agora para os usuários em estágio mais avançado de dependência na literatura, o jeito é ir atrás do livros desses guerreiros.
“Bruno matou a mãe
matou o pai
os irmãos
os avós
os vizinhos.
Matou todo mundo de saudade
quando foi pra faculdade” Sérgio Vaz
Fui atingido no dia seguinte a exibição dos falcões por uma gripe fulminante que me nocauteou. Talvez seja a tal gripe aviária. Espero que essa gripe se espalhe rapidamente. Um vírus que tem como sintomas humanizar as pessoas, mesmo aqueles com fuzil na mão. Que destrua os anticorpos que dão a sensação de que “não tenho nada a ver com isso.” Um vírus que provoque náuseas por não conseguir fantasiar a realidade. Aumenta consideravelmente a pressão, popular, exigindo medidas. E que provoca forte delírio por um país melhor.
“O vírus a febre a cólera ” NUC
Há muitos jovens de 16 anos que já tem filhos.
Há muitos jovens de 16 anos que trabalham no tráfico.
Há muitos jovens de 16 anos deixando viúvas.
Os jovens de 16 anos precisam tirar o título de eleitor e mudar essa situação.
Me lembro no lançamento oficial do Hip-Hop a Lápis na galeria Ólido. No final do evento a equipe do Hip-Hop a Lápis entregou um embrulho de papel grosso e pardo pra cada um dos autores. Uns brincaram: “Isso aqui é cocaína?”, “É maconha?”.
Um levantou o pacote e falou:
– Isso é pior, é literalmente, traficar informação!
No pacote havia uma cota de livros para cada um distribuir em sua quebrada e bibliotecas…
“Troque o canhão por um livro mostre que é capaz” Viela 17
Tamu ai, contrabandiando ideologia…
…“Se eu morrer, nasce outro igual a mim. Pior ou melhor” fala de um Falcão
• Para comprar o livro, www.anitagaribaldi.com.br
Leia também:
• Sergio Vaz: Sobre leões, falcões e passarinhos