Solidariedade & Inclusão Social

A generosidade e o desprendimento do povo brasileiro, especialmente das camadas populares, é algo efetivamente incomum. Tudo indica que essa particularidade está associada aos nossos ancestrais, vulgarmente conhecidos como “índios”, para quem esses valores tinham caráter universal.

Todos os cronistas e naturalistas que por aqui andaram entre o século XVI e XIX são unânimes no registro da hospitalidade de nossos ancestrais, se bem tratados, e de sua eventual beligerância, indo ao extremo da antropofagia, quando ameaçados ou contrariados no que entendiam ser um pacto rompido.

Tanto os jesuítas Frei Gaspar de Carvajal, Cristoval d´Acuña e Padre João Daniel, quanto os cientistas La Condamine, Alexandre Rodrigues Ferreira, Spix & Martius, Alfred Russel Wallace e Luis Agassiz anotaram e concluíram, em diferentes momentos, que os “índios” eram extremamente hospitaleiros e mais sensíveis a um bom tratamento do que a qualquer recompensa material, por mais vultosa que ela fosse.

Nesse final de ano pude constatar in loco dois exemplos dessa generosidade praticada no município de Manaus, que certamente se soma a outras tantas levadas a efeito nesse imenso país.

Visitei um centro de recuperação de dependentes químicos, gerido e mantido pela iniciativa de um religioso que com a solidariedade de seus pares e voluntários anônimos ajudam algumas dezenas de seres humanos a ter novamente esperança. Pessoas que em algum momento desistiram de viver e num outro resolveram novamente lutar para viver, nos fazendo lembrar de que “difícil não é a morte, mas a vida e seus ofícios”, como bem demonstrou o poeta Maiakovski tanto ao censurar o suicídio de seu amigo Sierguei Iessiênin, como quando ele próprio se suicidou por não mais suportar o “peso” da vida.

Depois fui a um abrigo de apoios a pessoas, especialmente crianças, com todo tipo de deficiência, em particular a mental. Recebem atenção esmerada e cuidadosa de profissionais que fazem da sua profissão um verdadeiro sacerdócio. Muitas dessas pessoas ali entraram crianças e hoje, após adultas, continuam sendo cuidadas com a mesma dedicação pela solidariedade desse tipo de instituição e de seus zelosos profissionais.

Reconforta-me saber que em ambos os casos estamos contribuindo, de alguma forma, com essa ação solidária fornecendo parte dos alimentos que ali são consumidos, tanto pelo centro de recuperação de dependentes quanto pelo abrigo de apoio aos excepcionais.

Os alimentos que ali nós fornecemos são oriundos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), executado pela Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror) em parceria com o governo federal, cuja aquisição é feita dos agricultores familiares e distribuídos gratuitamente a instituições sem fim lucrativo. É em si mesmo um exemplo acabado de generosidade e solidariedade e, certamente, de inclusão de tantos que nada tinham e passaram a ter um mínimo em função dessas ações de solidariedade.

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