Só agora que a ficha caiu!
Tenho 30 anos, até hoje me preocupo quando acordo se conseguirei fazer pelo menos duas refeições; o almoço e janta.
Publicado 27/09/2009 11:42
Estava numa dessas manhãs, uma sexta feira aqui em Porto Alegre, inquieto totalmente preocupado e de repente o telefone toca:
– E ai Toni C.!
Ficamos durante 20 minutos conversando e tentando encontrar um meio para que eu pudesse chegar em Belo Horizonte no encontro nacional da Nação Hip-Hop Brasil.
Eu falava que se a gente tivesse um pouco mais de condições básicas a nossa organização saia catando jovens que se identificam com a nossa luta, e que certamente entregariam suas vidas em nome da causa que lutamos. A tão sonhada justiça social, distribuição de renda e a nossa soberania nacional.
Enfim, por mais que pareça utopia não desisto nunca. Já não tenho nada mais a perder nesta vida, só o fato de contrariar as estatísticas, faz com que eu esteja no lucro.
Depois de muito quebrar a cabeça conseguimos um mecanismo para eu chegar em Minas Gerais. Mas precisava embarcar as seis e dez da manhã. Irmão, subi no morro onde moro de busão e peguei 50 conto emprestado com a firma, para que me tocasse no aeroporto Salgado Filho na madruga. Vagabundo ia pra Minas de Gol.
Já sobrevoando a cidade de Porto Alegre sentido BH, fiquei pensando muito e sofrendo com toda essa contradição pela falta de grana que vivo. Imagina só, se eu falo pros irmão no morro que eu sem um mirreis no bolso, estaria voando de avião para participar de um encontro nacional de hip-hop. Certamente iria confundir a rapaziada.
O pouso foi por volta das 11:45 de sábado, a barriga roncando e sem condição nenhuma de meter um rango. Até porque a passagem do busão no aeroporto de Confins, era de quinze conto até a rodoviária de Belo Horizonte. Pra ajudar meu celular não dava sinal e perguntando pruma mineirinha… Ela me contou que ninguém opera pela Vivo lá, e eu acreditando na propaganda que assisto no Sul, que a Vivo é a maior operadora do Brasil…
Tive um estralo e liguei pra Rita Butts meu anjo da guarda e pedi pra ela fazer a ponte com o pessoal que já estava na comunidade do Alto Vera Cruz no encontro pra me socorrer.
Segui a risca a orientação e por volta das 14 e 20 cheguei no local do encontro, dei um abraço no Aliado G e apertei ele de cara em 20 conto, o custo do valor da corrida de Taxi, já é a segunda vez que o Presidente me tira do aperto a outra foi no RJ no seminário do conselho da secretária de juventude.
Manos e minas por todo esse país. Divido com todos as dificuldades que passei, porque esta é a atual realidade da juventude brasileira e não seria diferente dos nossos quadros pelo Brasil afora. Mas nem por isso deixamos de fazer o encontro da nossa organização. Até porque, em 15 anos de militância e ativismo no hip-hop, nunca participei de uma reunião com altíssimo nível de discussão. Até mesmo nos momentos de maior divergencia, estávamos com acumulo suficiente para esgotarmos o debate e sairmos com uma opinião consensual.
Foi algo que pra mim passo a encarar como histórico, na minha caminhada e tenho certeza que daqui a 20 anos poderei dizer para os meus três filhos:
– Eu estava lá na primeira reunião que decidiu a direção nacional da Nação Hip-Hop Brasil, da qual ajudei a construir!
Em nome de Nossa Senhora da Periferia, só agora que a ficha caiu!