Sem medo de ser comunista no Brasil
Em entrevista ao Roda Viva, o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB), mostrou todo o seu preparo para tratar dos temas de interesse nacional, avançou para além do discurso de oposição com propostas e alternativas para a saída da crise política e econômica, além de demonstrar a sua envergadura política e capacidade de diálogo para construir alianças.
Publicado 24/09/2019 17:06
Bolsonaro ao eleger os seus adversários com o seu abjeto anticomunismo deu a oportunidade para o Brasil conhecer melhor o Governador comunista do Maranhão. Flávio Dino vem se destacando no debate nacional e desperta interesse em todos que acompanham as suas entrevistas e aparições públicas.
Com aprovação popular, reeleito em primeiro turno em um estado dominado por décadas pela oligarquia Sarney, Dino desenvolve um programa ousado no Maranhão com investimentos em políticas sociais – principalmente na área da educação -, parcerias público-privadas e alianças políticas amplas. O Governador teve a oportunidade de demonstrar toda a sua capacidade em entrevista no programa Roda Viva.
Ao começar a entrevista Flávio Dino reafirmou a posição do PCdoB em apoiar uma frente ampla política que seja capaz de estabelecer convergências mínimas em relação a defesa da democracia plena, soberania nacional e os direitos garantidos aos mais pobres pela Constituição de 1988. Diante de uma conjuntura que impõe uma realidade em que um governo de extrema direita avança em rompantes autoritários, as pequenas diferenças partidárias devem ficar em segundo plano.
Demonstrando domínio da história política brasileira, o comunista lembra: “Quem diria que após o golpe de 1964, Carlos Lacerda, João Goulart e Juscelino Kubitschek estariam juntos pela Frente Ampla”. Caberia lembrar também que o líder comunista Luiz Carlos Prestes esteve junto com Getúlio Vargas contra o imperialismo estadunidense, mesmo após a perseguição aos comunistas no Estado Novo e a extradição de Olga Benário para a Alemanha nazista.
Questionado se a bandeira Lula Livre atrapalha as alianças políticas para formação de frente ampla, Dino reafirma a sua posição quanto ao direito do ex-presidente Lula de ser julgado em um tribunal justo por um juiz imparcial, o que mensagens que vieram à tona entre procuradores da força tarefa da Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro, demonstraram ter sido negado ao petista.
A defesa da liberdade de Lula e de um julgamento justo, passa pela defesa de um direito fundamental em um Estado Democrático de Direito, ao devido processo legal e a presunção de inocência e que isso não impediria alianças: "Me alinho também com correntes políticas que pensam diferente. Quem defende tem direito de defender, quem acha que isso não é uma questão central também tem direito de não se pronunciar"
Fávio Dino ainda deu a fórmula para a construção de alianças que deve se fazer em torno de um programa que possa retirar o Brasil de suas dificuldades mais urgentes: o desemprego, perda de direitos sociais e o baixo crescimento econômico.
Para isso o Governador discorreu sobre uma reforma tributária justa que desonere a tributação sobre o consumo (indireta), que trata como igual os desiguais e defendeu uma tributação para lucros e dividendos. Além disso sugeriu o uso das reservas internacionais em dólares que o Brasil possui, para serem usadas em fundos garantidores de investimentos públicos e privados para a retomada do desenvolvimento nacional e aquecimento da economia interna.
Os pensamentos políticos da frente ampla para Dino, devem ser o trabalhismo e o lulismo, pois se tratam das melhores experiências que o país teve a oportunidade de conhecer em termos de desenvolvimento econômico, direitos sociais e liberdades democráticas em governos com participação de amplos setores da sociedade. Não devemos nos apegar a saudosismos mas sim revisitar as experiências positivas para delas nos inspirarmos na construção de um projeto nacional.
Muito questionado por ser do PCdoB, o comunista reafirma sem medo a sua formação política, relembra o papel de Jorge Amado, comunista que introduziu emenda na Constituição de 1946 garantindo o direito as liberdades religiosas, reforça que o PCdoB tem papel central na defesa da democracia brasileira e resume bem o que é ser de esquerda no século XXl “ser de esquerda é tão bom que o coração está do lado esquerdo do peito, é o lado do amor, da empatia, do carinho e do afeto”.
O comunismo é um pensamento político que se desenvolveu de diferentes formas ao longo da história e foi adaptado diante de uma diversidade de experiências conjunturais. Para Flávio Dino o comunismo hoje no Brasil se baseia na busca pela justiça social e na solidariedade política, junto a necessidade de um novo modelo de produção que diminua as desigualdades, valores esses que ficam perdidos em meio a dogmas anticomunistas propagados por alguns setores que tentam criminalizar os governos de esquerda.
Em sua análise, a extrema direita está dividida entre bolsonaristas e lavajatistas, para Dino os bolsonaristas nunca foram lavajatistas mas o lavajatismo levou ao bolsonarismo e agora estão em um casamento de fachada, que não vai muito bem. Essas contradições não oferecem soluções para o povo e não ajudam a melhorar o ânimo da economia. O famigerado mercado, segundo o comunista, é uma entidade metafísica, esotérica, diz ainda que só é possível retomar a demanda com investimentos públicos.
Flávio Dino ainda toca questões centrais para o esclarecimento do debate público, ao ser questionado sobre autocrítica da esquerda, rebate: “estamos fora do governo ha 4 anos, e cadê a autocrítica dos que deram um golpe de estado e implantam uma agenda recessiva com um teto de gastos que corta dinheiro da saúde e educação? Precisamos de frente ampla mas sem renegar o passado”.
Ao reconhecer que a esquerda perdeu o debate em pautas como corrupção e segurança pública, o comunista não se furta de defender as suas posições contra os discursos belicistas de alguns governantes, usa de exemplo a redução de crimes violentos em seu Estado sem incentivo a violência e mostra o caminho com investimentos em educação.
O Governador ainda faz um contraponto importante aos falsos patriotas que estão no poder, dizendo que se apropriaram do verde-amarelo e da bandeira brasileira, mas que os verdadeiros patriotas somos nós, e quem defende o entreguismo são outras forças políticas.
Ao final só restou na bancada de entrevistadores rostos de admiração com tamanha desenvoltura e envergadura política do melhor governador do Brasil. Flávio Dino confirmou para todos que puderam assistir, onde um comunista tiver a fala sempre defenderá o lado certo da história.
Ficou a pergunta: Flávio Dino é o nome que une a Frente Ampla em 2022?