Por que abandonamos a América Latina?
No início deste mês estive no México, a convite do ministro Reinhold Stephanes, integrando uma “missão de aproximação” do governo brasileiro com os nossos irmãos astecas. A missão foi composta por alguns Secretários de Agricultura e por empresários de div
Publicado 08/08/2007 18:46
O fato de ter sido o Ministério da Agricultura o ente federal escolhido para liderar a missão precursora da visita que o presidente Lula faria àquele país, revela que o intercâmbio comercial pretendido se dará prioritariamente na área do “agronegócio”.
O nosso papel era, fundamentalmente, procurar entender os limites e possibilidades de um intercambio comercial regular com o México, estabelecer contato com gestores públicos e privados, além de apresentar às nossas pretensões, ou seja, buscar uma “aproximação”.
Visitamos autoridades, empresários, feiras, mercados, centros de distribuição e mantivemos conversas bilaterais com distintos autores sociais. Na esmagadora maioria dos contatos percebemos um misto de boa vontade e de grande desconhecimento sobre o Brasil como um todo e do setor primário em particular.
Isto se explica porque o Brasil, nos governos anteriores, priorizou intercambio com os Estados Unidos, por exemplo, em detrimento de parceiros latinos. Na visita a SAGARPA – o equivalente ao Ministério da Agricultura – isto ficou muito evidente quando eles nos disseram que não se recordavam de ter recebido uma outra missão brasileira, com aquela finalidade, nos últimos 50 anos.
É claro que da parte do governo mexicano, até por conta da pressão que sofrem dos Estados Unidos, há certa diferença entre o que é dito e praticado. Na exposição do dirigente do órgão de defesa sanitária da SAGARPA, por exemplo, ele fez restrições a praticamente todos os países quanto a eficiência no combate a pragas. Mas isto não os impede de manter largo intercambio comercial com praticamente todos esses países, a exceção do Brasil.
Lamentavelmente, por conta de uma visão política equivocada, viramos as costas para a América Latina. Não somos vistos como parte da América Latina, o que talvez explique porque o México mantém intercambio comercial com o Uruguai e a Argentina, no extremo da América do Sul, e praticamente desconhece o Brasil.
Fica claro que apesar de estarmos relativamente próximos, falarmos línguas semelhantes e termos até mesmo hábitos culturais parecidos, não temos o México entre os nossos parceiros prioritários, seja na área comercial, industrial, cultural e ou política. O México comercializa com a África, Ásia, Europa, Oceania e, principalmente, com os Estados Unidos da América, de onde importa milhares de toneladas de alimentos todo ano. O Brasil adota basicamente o mesmo comportamento. Mantém relações comerciais com todos esses continentes e desconsidera parceiros fundamentais como o México e demais países da América Latina.
Espero, portanto, que a nossa missão tenha de alguma forma contribuído para eliminar esse fosso, que certamente não foi criado pelo nosso povo, mas sim por uma elite política completamente alheia a realidade de seus países.