Perspectivas do Mundo do Trabalho
O objetivo é compreender como o mercado de trabalho evoluirá nos próximos cinco anos, ou seja, até 2027. Um cenário que pode ser bem diferente do da época atual.
Publicado 03/05/2023 09:40 | Editado 03/05/2023 09:14
Recebi de uma amiga a quarta Pesquisa do Fórum Econômico Mundial: o relatório 2023 sobre “O Futuro do Trabalho”. Uma análise sob a ótica das empresas, principalmente das grandes empresas.
Traz a visão de 803 firmas que empregam mais de 11 milhões de funcionários, em 45 países, de diferentes segmentos industriais. O objetivo é compreender como o mercado de trabalho evoluirá nos próximos cinco anos, ou seja, até 2027. Um cenário que pode ser bem diferente do da época atual.
Duas premissas chamaram a atenção.
Em primeiro lugar, a alta aderência das empresas para princípios norteadores, três principalmente, a preocupação crescente com as questões ambientais, a relevância da responsabilidade social, com os empregados e com o ambiente em que estão inseridas, a busca de transparência na sua governança, para clientes, fornecedores e setores governamentais.
Em segundo lugar, a consciência de que o nível do emprego nos países de maior renda per capta vem se recuperando celeremente após a pandemia, enquanto isso não se observa nos países de médio e baixo desenvolvimento. O pleno emprego está longe de ser alcançado nos países em desenvolvimento.
Há uma clara noção de que a nova onda tecnológica é um dos propulsores principais da recuperação do emprego para os próximos anos nos países mais desenvolvidos. Novas tecnologias com um maior acesso às tecnologias digitais tendem a forçar uma postura disruptiva que modificará a matriz produtiva.
Computação nas nuvens, inteligência artificial, big datas tem grande probabilidade de introdução na maioria das empresas consultadas, modificando o perfil das pessoas a serem utilizadas e o perfil de capacitação necessário.
O comércio eletrônico, bem como o digital, serão utilizados por mais de três quartos das empresas, as empresas se dispõem a investir em capacitação nessas novas áreas e a robotização dos processos deve avançar significativamente nesse período.
As tecnologias de gestão ambiental e a preocupação com os impactos no clima devem ter um efeito positivo no emprego, aliados a uma evolução crescente no campo de segurança no cyber espaço. Isso garante, aos países centrais, recuperação crescente na matriz de empregabilidade.
No entanto, se espera que um quarto dos empregos atuais exijam uma renovação, principalmente devido à introdução disruptiva de novos processos industriais. Segundo os entrevistados, seriam criados cerca de setenta milhões de empregos e eliminados oitenta e quatro milhões, resultando em uma perca de empregos de aproximadamente catorze milhões. O preocupante é saber que isso teria uma maior concentração, bastante acentuada, nos países menos desenvolvidos.
Interessante notar que, frente às pesquisas dos anos anteriores, o ritmo de automatização, nos próximos cinco anos, tende a diminuir, centrando-se mais nas áreas de tecnologia strictu sensu, digitalização de processos e sustentabilidade. Nessas, é importante investir pesadamente para ampliar os processos digitais e virtuais.
Chamam a atenção as características esperadas no perfil profissional daqueles que se inserem nesse movimento. Mais de quinze habilidades são levantadas. No entanto, duas são fundamentais e devem merecer enfoque principal.
A necessidade de pensamento analítico é fundamental. Não basta conhecer as rotinas e dominá-las. Fundamental entender as lógicas dos processos, questioná-las e, sempre que necessário, modificá-las. Pensamento analítico, questionamento sistemático, faz parte do perfil de habilidades desejado para o profissional de 2027 valorizado pelas empresas.
O segundo aspecto, muito ressaltado, foi a necessidade de criatividade. Uma pessoa inventiva, que consiga modificar os algoritmos existentes nos processos, que faça avançar com idéias novas os mecanismos preexistentes, é altamente desejável no modelo atual de empregabilidade.
Essas duas características têm sido norte para os caçadores de talentos das grandes empresas na atualidade.
Os empregadores consultados chamam a atenção de que cerca de metade das habilidades atuais dos funcionários serão afetadas neste curto espaço de tempo. Também, prevêem que seis em cada dez funcionários terão que se submeter a um processo de requalificação, mas, chamam a atenção que apenas cinco terão essa oportunidade, o que significa que um décimo dos funcionários corre o risco de serem descartados.
Em geral, as empresas consultadas dizem ter planos de capacitação e de automatização dos processos. E terem planos de contratação que priorizam mulheres, jovens de 25 anos e pessoas com deficiência.
No relacionamento com os Governos vêem como prioritário o financiamento, seja por programas por eles desenvolvidos, seja pela redução de impostos que permitam às empresas estruturar programas para desenvolver as habilidades que lhes são necessárias.
Este é o panorama em 2023 para as grandes empresas consultadas. Evidentemente, deve ser atentamente analisado e mostra tendências importantíssimas para países como o nosso. Mas, importante fazer algumas ponderações.
Em primeiro lugar, infelizmente, nossa matriz produtiva não segue muito de perto esse modelo. Temos empresas de porte bem diferente e os processos de modernização se darão a ritmo menor.
Muito de nossa matriz ainda é de perfil taylorista precisando de uma rotinização crescente.Também, a recuperação do período de pandemia será mais morosa e é fundamental a criação de empregos menos qualificados que absorvam a grande massa de desempregados que temos. Evidentemente, há uma significativa parcela de nossas empresas que segue os rumos que a pesquisa indicou e devem ser envidados esforços para que se acompanhem essas tendências.
As perspectivas do mundo do trabalho em nosso país, têm, necessariamente, que ter em conta esses dois caminhos e gerar condições que nos permitam resolver o problema de geração de emprego de menor qualificação, que é crítico, mas também acompanhar a produtividade das grandes organizações para uma inserção cada vez mais vantajosa para nossa sociedade.