Paredão na Expocrato: um muro neoliberal do Estado  

Crítica à gestão do festival destaca a falta de apoio estatal e a predominância de interesses privados na promoção cultural do Cariri.

Foto: Reprodução/Instagram

A programação da Expocrato é um retrato da indústria restritiva da cultura de massa e da ausência do Estado, enquanto fomentador da democratização da diversidade e pluralidade estética e musical do país, em especial do Nordeste e do Cariri. 

A cada ano, o evento contraria o Plano Estadual de Cultura do Ceará, que institui o marco legal,  lei nº 16.026 de 1º de junho de 2016, que  em tese deve  nortear a política de Estado para cultura, na transversalidade da gestão governamental.  Desvincular o Plano Estadual de Cultura dos eventos promovidos pelo Governo do Estado é atentar contra as diretrizes e o planejamento público em que envolve participação social. É prevaricar. 

A Expocrato deve ser percebida como instrumento estratégico para o desenvolvimento econômico e social da Região Metropolitana do Cariri. Dinheiro e Cultura  devem fazer parte desta estratégia. A atração de recursos para o fortalecimento da economia regional  deve ser o horizonte. Uma política predatória de colonização econômica  deve ser rejeitada, entretanto, esse é o modus operandi que vem tendo continuidade ao longo dos anos. Grandes empresas extraindo recursos da região e empreendimentos locais enfrentando dificuldades  para  arcar com a locação de espaços com preços elevados. 

A gestão deste evento, está entregue ao setor privado, por conseguinte aos interesses privados. O Governo do Estado do Ceará  ao entregar a Expocrato, a iniciativa privada desconsidera a potência política e a produção das universidades e institutos estaduais e federais da região, desconsidera a ciência, tecnologia e inovação, que de forma direta e indireta dialoga com a temática e o caráter da Expocrato. 

A gestão pública pode dar o tom civilizatório, nortear o caminho de ampliação e manutenção de recursos financeiros para a região do Cariri, mas pode fazer o contrário, seguir a receita neoliberal de ausência do Estado. A Expocrato segue esse modelo entreguista! 

As culturas não são  apenas entretenimento, muito menos palco de imparcialidade. Existe uma profundidade entre a cultura, enquanto mecanismo de disseminação de valores ideológicos e a sua relação/conflito com o capital.  A programação da Expocrato consegue ser fiel inquestionavelmente aos interesses do mercado, conseguindo  restringir,  excluir, abafar, silenciar e oferecer migalhas à produção musical da região.    

Essa programação desconsidera   a diversidade, pluralidade e afirmação das identidades estéticas e musicais do Cariri e do Nordeste, é programação para paredão, para o copiar e colar, para o mais do mesmo. Quais os critérios republicanos para  escolha das atrações musicais? Mercado, possivelmente seja a resposta.       

O palco de escala para o grande público é a não a afirmação das nossas identidades e pluralidades, é o apagamento do hibridismo estético e da mesclagem entre territórios musicais. A produção musical da região fica  fora da escala de longo alcance, alguns chegam lá, em condições  adversas. 

Os palcos paralelos, são pisoteados pela gestão da Expocrato. O Palco Sonoro da URCA, O Palco Mestre Eloi e o da Prefeitura do Crato são demonstrações das condições inadequadas e do escanteamento  da produção da tradição popular e da musicalidade tocada no Cariri. 

O formato da Expocrato não é inclusivo, muito menos tem caráter republicano e democrático tem a  face do coronelismo contemporâneo e do neoliberalismo como porteira.   

É preciso colocar a gestão da Expocrato na pauta republicana e garantir mecanismos de controle e participação social e uma governança composta pelo conjunto de instituições que pesquisam e apontam caminhos para o desenvolvimento da Região Metropolitana do Cariri. 

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