O protagonismo de Dilma

Seja qual for o cenário decorrente da admissibilidade, pelo Senado Federal, do pedido de impeachment, o protagonismo da presidente Dilma Rousseff será crucial.

Sobretudo a partir de seu pronunciamento na abertura do Congresso Nacional da CUT, semanas atrás, a presidente rompeu com certo alheamento que a vinha marcando ao longo do primeiro ano do segundo mandato.

Foi um discurso incisivo. "Eu me insurjo contra o golpismo e suas ações conspiratórias”, disse a presidente na ocasião, “e não temo seus defensores". Acusando os golpistas de “moralistas sem moral” e de “conspiradores”, Dilma afirmou que eles “tentam obter o impeachment para interromper um mandato conquistado com 54 milhões de votos”, sem que haja acusação alguma à titular. Prometeu “não se dobrar”.

Ofensiva

Dias depois, em Pernambuco, a presidente repetiu a dose. Em seguida, avistou-se com correspondentes estrangeiros e, mais tarde, com juristas empenhados na defesa da democracia. Neste encontro, ela foi particularmente mais enfática: o “Não cabem meias palavras”, afirmou, “o que está e curso é um golpe contra a democracia”. Garantiu estar disposta a enfrentar, pelos meios que se fizerem necessários, a trama antidemocrática e que não vai renunciar “em hipótese alguma”.

A partir daí Dilma passou a ampliar e aprofundar significativamente sua interlocução com a sociedade. Recebeu lideranças dos movimentos sociais, compareceu – com o mesmo discurso incisivo – a congressos, seminários, encontros promovidos por diversos setores da sociedade brasileira. Em nenhum dos eventos oficiais deixou de se posicionar, cada vez mais claramente, na condenação do golpe em curso.

Nesta terça-feira, 10, na abertura, da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em Brasília, a presidente garantiu: "Vou lutar com todas as forças e quero dizer a vocês que, para mim, o último dia do meu mandato é 31 de dezembro de 2018". E mais: "Eu não estou cansada de lutar, estou cansada, e o Brasil também, dos desleais e dos traidores”.

Frise-se que todos esses eventos (e muitos outros), que vincaram o novo protagonismo da presidente, foram repercutidos amplamente nas redes sociais, que nos últimos tempos vêm compensando, sempre que possível, a conduta francamente golpista e censória da grande mídia privada.

O cenário pós-admissibilidade do pedido de impeachment, implicará uma luta política mais intensa, na qual haverá de pontificar o movimento social como o mais potente motor da resistência democrática. Obviamente sem desprezar os embates parlamentares (onde, afinal, o impeachment será resolvido) e eventuais arranjos institucionais nas várias esferas do poder. Mas mesmo essas frentes essenciais poderão – melhor, deverão – ser fortemente impulsionadas pelo movimento popular numa perspectiva de enfrentamento do golpe em curso.

Esse movimento das ruas – sempre essencial e, particularmente, agora – não poderá – caso almeje o sucesso – prescindir do protagonismo da presidente Dilma Rousseff. Ela é o centro do alvo golpista, sua deposição é etapa primordial na trama da direita brasileira, sua reputação é imaculada e sobre ela não pesa, a rigor, nenhuma acusação de corrupção, muito menos de crime de responsabilidade (salvo na percepção oportunista dos seus opositores, patronos do impeachment). Ela é, portanto, quem deverá liderar a campanha legalista nos próximos 180 dias, ao lado das principais personalidades do campo democrático.

O momento é raro em sua potencialidade pedagógica e mobilizadora junto ao povo. Urge denunciar os sentidos mais profundos do golpe, mostrar as abissais diferenças entre os dois projetos em confrontos, relembrar os ganhos auferidos pela população a partir de 2003, fomentar a construção de uma consciência em favor dos avanços sociais para além do que foi conquistado, eis a senda pela qual, a meu ver, deve caminhar a resistência democrática.

Ao se colocar à frente desse movimento, a presidente Dilma Rousseff o impulsionará com o vigor necessário e se credenciará ainda mais como valorosa liderança do povo brasileiro.

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