“O Mauritano”
Explorando as violações de direitos humanos em Guantánamo, filme retrata a luta de Mohamedou Ould Slahi por justiça e liberdade, destacando a desumanização dos sistemas prisionais.
Publicado 03/06/2024 13:59 | Editado 04/06/2024 09:07
Em “O Mauritano”, a produção cinematográfica trata essencialmente de encarceramento brutal e injusto de um inocente, e de graves violações de direitos humanos dos presos. Ela se baseia no livro autobiográfico chamado “O diário de Guantánamo”, de Mohamedou Ould Slahi, elaborado a partir de cartas escritas por ele na prisão. É narrada a história do autor em seu revoltante encarceramento por longos 14 anos na base militar norte-americana de Guantánamo, enclave do imperialismo dos EUA na ilha de Cuba.
O ator francês Tahar Rahim interpreta Mohamedou, que registrou sua sofrida trajetória através de cartas escritas no cárcere, a resistência às torturas físicas, psicológicas e morais nesse longo período, acusado de supostamente ter participado do atentado terrorista às Torres Gêmeas em setembro de 2001.
O filme pode ser acessado pelo streaming Prime Video. Nele se destaca o brilhante desempenho de Jodie Foster, no papel de Nancy Hollander, advogada de defesa do preso, com sua assistente Teri Duncan (Shailene Woodley). Elas trabalham principalmente o argumento de que não existem provas para a prisão de Mohamedou, o defendem, honrando seu compromisso com a lei, com a justiça e seu cliente. Demonstram ainda que os EUA queriam criminalizar a qualquer custo o preso, tentando defini-lo como membro da Al Qaeda (a organização que era dirigida por Osama Bin Laden). Para isso os acusadores recorrem a diversos instrumentos, incluindo a ocultação de relatórios secretos de cruéis e intermináveis sessões de tortura.
O aclamado ator Benedict Cumberbatch faz o papel do tenente Stuart Couch, designado como promotor de acusação, mas acaba por encontrar uma grande conspiração dos altos comandos militares do governo estadunidense.
O Mauritano | Trailer
Na película, pode-se vivenciar, de certa forma, o quanto Slahi é um filho amoroso e cuidadoso com sua mãe. Em vários momentos, as cenas mostram como ele foi um estudante dedicado, que saiu de seu país de origem, a Mauritânia, para estudar engenharia na Alemanhã. Mauritânia é uma nação africana, uma república islâmica, situada numa área de transição entre a África Mediterrânea e a África Subsaariana. Apresenta baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): 0,433, com taxa de mortalidade infantil elevada, 72 óbitos a cada mil nascidos vivos. Os dados de analfabetismo também são altos, atingindo cerca de 44% dos habitantes. O regime de escravatura foi formalmente extinto nessa nação da África somente no século XX, em 1981; entretanto, assim como é de amplo conhecimento nosso sobre o trabalho escravo ainda ocorrer no próprio Brasil, também lá existem denúncias, objeto de preocupação de organizações internacionais de defesa dos direitos humanos. [https://l1nk.dev/jOc7i].
A prisão de Guantánamo carrega a terrível fama de graves violações dos direitos humanos. Ela é um abusivo território imposto à força pelos EUA em Cuba, localizado no leste da ilha, contra a vontade do povo e governo da nação caribenha. Funciona como um complexo penitenciário militar, usado para prender supostos terroristas. O filme registra desde a ida ao local num ônibus, até suas instalações, a frieza e o rígido controle policial, embora, tente mostrar em alguns momentos uma Guantánamo amenizada, atravessada por cenas angustiantes de torturas e até desaparecimento de presos. Esse carcere é motivo de indignação internacional e alvo de duras críticas, tanto por parte de governos como de organizações de defesa de direitos humanos. Conforme a Wikipedia, desde a abertura desse autêntico campo de concentração, já passaram por Guantánamo 775 prisioneiros sem acusação formada, sem processo constituído e sem direito a julgamento, não só se constituindo um atentado aos direitos humanos como um total desrespeito à convenção de Genebra.
As Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais compõem o núcleo do Direito Internacional Humanitário, ramo do Direito Internacional, e estipulam medidas a serem tomadas para evitar ou colocar um fim em todas as violações. Contêm normas estritas para lidar com as chamadas “infrações graves”. Independentemente de nacionalidade, as pessoas acusadas de tais sérios delitos precisam ser alvo de investigação, processo e julgamento, dentro do devido processo legal, com direito de defesa. [https://l1nq.com/HsBDb].
Como os letreiros no filme lembram, dos 779 encarcerados, somente oito foram julgados e condenados, sendo que três conseguiram recorrer contra a sentença.
Sobressai no filme a desumanização dos sistemas prisionais, mas, como um chamado à liberdade, um impulso à luta anti-imperialista, uma esperança para não desistir, o filme dirigido por Kevin MacDonald merece ser recomendado, como documentos históricos e pulsantes de possibilidades.
Assinale-se que a fotografia é funebre, tristíssima. Mas nem tudo pode ser aflitiva amargura e abrem-se frestas por entre as grades do pátio da prisão, por onde Slahi vislumbra nesgas do mar imenso do Caribe, configurando o contraste entre o desespero e a infelicidade com o sentimento de esperança por uma futura liberdade.
Ficha técnica:
Título Original: The Mauritanian (Original) – O Mauritano
Direção: Kevin MacDonald
Estreia no Brasil: 27 de Maio de 2021
Duração: 129 minutos
Gênero : Drama
Países de Origem: Estados Unidos da América, Reino Unido
Elenco: Tahar Rahim, Jodie Foster, Shailene Woodley, Benedict Cumberbatch