No tempo das Borboletas
Há 61 anos, as irmãs Minerva, Patria e Maria Tereza Mirabal foram covardemente assassinadas por ordem do ditador general Rafael Leônidas Trujillo, que durante 31 anos comandou um regime de horror na República Dominicana. Pode conter spoiler
Publicado 29/11/2021 19:16 | Editado 29/11/2021 20:08

“Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”
(Minerva Mirabal)
Novembro é um mês marcado por muitas lutas e por duas datas significativas. O dia 20 de novembro – Dia da Consciência Negra, data que Zumbi dos Palmares foi assassinado e dia 25, dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, data escolhida para homenagear as irmãs Mirabal, que se tornaram símbolo da luta contra as violências de gênero.
Há 61 anos, as irmãs Minerva, Patria e Maria Tereza Mirabal foram covardemente assassinadas por ordem do ditador general Rafael Leônidas Trujillo (1930-1961), que durante 31 anos comandou um regime de horror na República Dominicana.
O filme no “Tempo das Borboletas”, dirigido por Mariano Barroso, disponível no site do Youtube, é baseado no livro escrito em 1994 por Julia Álvarez intitulado “En el tiempo de las Mariposas” e retrata o período de atrocidades cometidas pelo general Trujillo (Edward James Olmos), que utilizava o lema “ou estás comigo ou contra mim”. Perseguiu, torturou e matou mais de 30 mil pessoas tendo sido um dos tiranos mais sanguinários conhecidos na América Latina.
Minerva Mirabal (brilhantemente interpretada por Salma Hayek), Patria e Maria Teresa, filhas de don Enrique Mirabal, um pequeno proprietário de terras que vivia na cidade de Ojo de Agua, e da dona de casa Mercedes Mirabal, desafiaram a sangrenta ditadura do general Trujillo, criando um grupo de resistência ao governo ditatorial, virando alvos da repressão. Elas foram presas e torturadas diversas vezes, no entanto, resistiram. Até que no dia 25 de novembro de 1960, as irmãs sofrem uma emboscada e são assassinadas por agentes de repressão do Estado.

O ditador, ao matar as irmãs, provocou um grande movimento de contestação contra seu governo, culminando com sua morte em 1961.
Minerva sonhava se tornar advogada e foi a primeira mulher a se formar em direito na República Dominicana. No entanto, foi impedida pelo ditador de exercer a profissão, sendo presa e assediada em várias ocasiões pelo próprio Trujillo. Foi na universidade que conheceu seu marido Manolo Tavárez Justo com quem atuou no movimento de resistência ao governo.
Minerva e Maria Teresa foram presas por diversas vezes no período de 1949 a 1960. Minerva usava o codinome “Mariposa” no exercício de sua militância política clandestina. Elas lutavam por soluções para problemas sociais de seu país. O horroroso assassinato das irmãs produziu o rechaço geral da comunidade nacional e internacional em relação ao governo dominicano, e acelerou a queda do ditador Rafael Leônidas Trujillo.
Das quatro irmãs, somente Dedé ficou viva. Ela organizou a Fundação Irmãs Mirabal e o Museu das Irmãs Mirabal para continuar o legado. Dedé morreu aos 88 anos de idade, mas durante toda sua vida buscou honrar a memória e contar a história de suas irmãs.

Em 25 de novembro de 1981 foi realizado o primeiro Encontro Feminista da América Latina e do Caribe, em Bogotá (Colômbia). No evento, as mulheres denunciaram os abusos e as violências sofridas no ambiente doméstico, assim como a violação de direitos e a omissão do Estado na proteção e na atenção as essas situações, bem como a que trata da tortura e da prisão por motivos políticos. Desde 1981, a data da morte das Irmãs Mirabal tem se transformado em toda a América Latina um dia para marcar a luta das mulheres contra essa violação dos direitos humanos e um reconhecimento da força e resistência feminina. Em 1999, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a data 25 de novembro como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher.
O ano de 2020 trouxe uma triste soma de mais de 13 milhões de mulheres que sofreram violência em nosso país, muitas delas são mães. De acordo com o Instituto DataFolha e FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), 48,8% das mulheres brasileiras sofreram violência doméstica em 2020, e um aumento de 42% em 2019. Segundo dados do levantamento dos últimos 12 meses do FBSP, 65,2% das vítimas de agressão física eram mães. Um número altíssimo e que nos leva ao encontro de uma triste realidade.
Tenho apresentado algumas resenhas que tratam do tema. Cito a publicada pelo Portal Vermelho em maio desse ano com análise do filme Vidas Partidas, em que evidenciamos a importância da luta feminista no Brasil tanto para a defesa da Lei Maria da Penha como para que o Estado assuma seu papel de executor de políticas públicas de gênero. Nossas conquistas históricas não podem ser derrubadas por um governo ultraneoliberal e genocida como o de Jair Bolsonaro, que ataca fortemente a democracia, incita a violência em um país de estrutura patriarcal como o Brasil. Neste país é histórica a opressão do patriarcado, do capitalismo e do racismo, com números crescentes e alarmantes de violência contra mulheres e meninas.
Não podemos esquecer que em 2016 ao votar pelo impeachment o então deputado homenageou o torturador sanguinário Carlos Alberto Brilhante Ustra (1). Entre as vítimas do torturador, na ditadura civil-militar (1964-1985), estava justamente a ex-presidenta Dilma.
“Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”, proferido há 61 anos pela dominicana Minerva Mirabal, expressa em forma de luta todos os dias, todos os anos, mas de forma mais contundente no 25 de novembro tornando ainda mais forte nos dias de hoje, quando vivemos um período de barbárie em nosso país. A luta contra a violência às mulheres e meninas é de toda sociedade, começando com o fim desse governo, ampliando nossa mobilização para a retomada de nosso país, transformando cada vida perdida em um movimento capaz de revitalizar a esperança e fazendo a justa homenagem às mariposas (Minerva tinha o nome clandestino de Mariposa, por participar do Movimento 14 de Junho, levante que homenageava a data em que os dominicanos se revoltaram contra o ditador e tentaram derrubar o Governo), que subverteram a ditadura, o patriarcado e se tornaram voz coletiva das mulheres do mundo contra as injustiças, as violências e pela defesa da vida.
- No Tempo das Borboletas
- Data de lançamento:21 de outubro de 2001 (mundial)
- Diretor: Mariano Barroso
- Referências:
(1) https://www.brasildefato.com.br/2018/10/17/conheca-a-historia-sombria-do-coronel-ustra-torturador-e-idolo-de-bolsonaro - https://pt.wikipedia.org/wiki/Irm%C3%A3s_Mirabal
- https://www.brasildefatopb.com.br/2021/07/15/a-violencia-domestica-que-atinge-mulheres-e-maes-expoe-a-mao-pesada-do-patriarcado
https://www.youtube.com/watch?v=p8nmPmcaIJ0