Nada é estranho nas alianças eleitorais

Às portas de junho, mês das convenções partidárias, as águas agora tendem a desaguar para o mar. Ou seja, chegou a hora de afunilar os entendimentos com vistas às alianças eleitorais.

Tudo bem. A princípio, nada de novo em relação a pleitos anteriores. Porém como se fez tanto alarde em torno do instituto da verticalização que obriga os partidos que se coligarem formalmente para a eleição presidencial a reproduzirem as mesmas coligações no plano estadual, alguns dos nossos leitores têm nos interpelado estranhando o jogo multicolor das alianças em cada estado.

 

Quer um exemplo? O PSB, que apóia o presidente Lula, muito provavelmente não se coligará formalmente com o PT e o PCdoB nacionalmente, porque algumas das suas seções estaduais, como as de São Paulo e Minas Gerais, já estariam acertadas com os tucanos. Outro exemplo: enquanto o PMDB de Pernambuco, liderado pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos, se contrapõe à reeleição de Lula e apóia Alckmin, na vizinha Paraíba o senador José Maranhão, do mesmo PMDB, candidato ao governo do estado, apóia o presidente. São decorrências naturais das diversidades regionais e intra-regionais que caracterizam a sociedade brasileira.

 

Você fica com a impressão de que tudo está embaralhado e que não é fácil compreender o que se passa. Indo um pouco além da superfície, entretanto, e considerando a fragilidade do sistema partidário brasileiro, carente de agremiações programáticas, ideologicamente definidas e organicamente duradouras, verá que as coisas têm nexo. As alianças se constroem em torno de interesses concretos, políticos, com base social bem definida. Basta olhar o que defendem os candidatos majoritários que encabeçam as alianças, a plataforma de cada um.

 

Lula por exemplo, sinaliza para a continuidade da transição a um projeto de desenvolvimento democrático, soberano, tendo como vetores o incremento da produção, a distribuição de renda e a valorização do trabalho. Alckmin, seu principal oponente, se propõe a recolocar o projeto de cunho neoliberal da era FHC, que favorecia principalmente o setor rentista nacional e os interesses de fora.

 

Nos estados, embora não de modo automático, as forças litigantes se situam num ou noutro campo tendo como referência a eleição presidencial. E os interesses sociais que representam. Independentemente da sigla a que pertencem. É por isso que grupos políticos que aparentemente deveriam estar separados se unem; e outros, formalmente afinados, se<opõem entre si.

 

Procure mirar as alianças com esse olhar e você verá que nada é estranho, tudo faz sentido.

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